segunda-feira, 20 de abril de 2015

13 coisas que pessoas mentalmente fortes NÃO fazem



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Como evitar as armadilhas que podem impedi-lo de alcançar seu pleno potencial.

Muitas vezes ouvimos conselhos como: "Pense positivo e as coisas boas vão acontecer", ou, "Faça o seu melhor e, consequentemente, as coisas vão funcionar." Embora essas frases bem intencionadas tenham algum mérito, elas não irão ajudá-lo a alcançar seus objetivos se você estiver simultaneamente implicado com comportamentos doentios. Reconhecer e substituir os pensamentos, comportamentos e sentimentos não-saudáveis que podem estar sabotando seus esforços é a chave para a construção de força mental.


Tente comparar força mental com força física. Enquanto um fisiculturista mantém seu físico com bons hábitos, como ir para a academia, é igualmente importante para ele se livrar de hábitos não-saudáveis, como comer junk food. Um regime de exercícios não vai ser eficaz na construção muscular magra, a menos que hábitos alimentares pouco saudáveis também sejam eliminados.

Da mesma forma, a construção de músculo mental requer trabalho duro, dedicação e exercício. Além de adotar hábitos saudáveis, evitar hábitos não-saudáveis - como pensamentos negativos, hábitos improdutivos e emoções autodestrutivas -  também é essencial.

Se você está trabalhando para se tornar um pai mais paciente ou está se esforçando para se tornar um atleta de elite, a construção de força mental irá ajudá-lo a alcançar seus objetivos. Aprenda a identificar as armadilhas comuns que você está propenso a cair, e exercícios práticos que ajudarão você a se tornar o melhor de si.


  • 1. Perder Tempo Sentindo pena de si mesmas


Muitos dos problemas e tristezas da vida são inevitáveis, mas sentir pena de si mesmo é uma escolha. Se você está lutando para pagar suas contas ou está lidando com problemas de saúde inexplicáveis, entregar-se à auto-piedade não irá resolver os seus problemas. Se você estiver propenso a sentir pena de si mesmo quando as coisas vão mal, treine a sua mente para trocar a auto-piedade por gratidão. Pessoas fortes mentalmente não perdem seu tempo e energia pensando sobre o problema, em vez disso, concentram-se na criação de uma solução.

  • 2. Dar o Poder aos Outros


Pode ser muito tentador culpar outras pessoas pelos nossos problemas e circunstâncias. Pensando coisas como: "Minha madrasta me faz sentir mal sobre mim mesmo", dá aos outros o poder sobre nós. Tome de volta o seu poder ao aceitar a plena responsabilidade pela forma como você pensa, sente e se comporta. Responsabilizar-se e criar o tipo de vida que você quer viver é um componente essencial para a construção de força mental.

  • 3. Ter Medo da Mudança


Apesar de se sentirmos mais seguros quando ficamos dentro de nossas zonas de conforto, evitar novos desafios é um dos maiores obstáculos para vivermos uma vida plena e rica. Aprender a reconhecer quando você evita a mudança por causa do desconforto que sente ao fazer algo novo pode ser o primeiro passo de uma longa jornada em direção a uma vida melhor. Quanto mais você praticar a tolerância aos sentimentos desconfortáveis associados à mudança - quando, por exemplo, ao assumir um novo emprego ou deixar um relacionamento não-saudável - mais confiante na sua capacidade de criar o seu futuro você vai ficar.

  • 4. Gastar Energia em Coisas que Elas não podem Controlar


Muitas vezes nos preocupamos com as coisas erradas. Ao invés de focar na preparação para a tempestade, desperdiçamos energia desejando que a tempestade não venha. Se investíssemos essa mesma energia para as coisas que podemos controlar, estaríamos muito mais preparados para o que a vida joga em nosso caminho. Preste atenção aos momentos em que você está tentado a se preocupar com algo que você não pode controlar - como as escolhas que outras pessoas fazem ou como o seu concorrente se comporta - e dedique essa energia em algo mais produtivo.

  • 5. Se Preocupar em Agradar os Outros


Um monte de gente diz: "Eu não me importo com o que os outros pensam", mas muitas vezes isso é um mecanismo de defesa destinado a protegê-las do sofrimento e da dor associada com a rejeição. Pessoas que vivem para agradar vêm em todas as formas. Às vezes você pode identificá-la a um quilômetro de distância, mas em alguns casos o medo de desagradar os outros está profundamente enraizado. Fazer e dizer coisas que podem não ser atendidas com solicitude exige coragem, mas viver uma vida autêntica exige que você viva de acordo com os seus valores, mesmo quando as suas escolhas não são populares.

  • 6. Medo de Assumir Riscos Calculados


Fazemos dezenas - senão centenas - de escolhas todos os dias com muita pouca consideração aos riscos que estamos tomando. Se optamos por usar um capacete em um passeio de bicicleta, ou decidimos tomar um empréstimo, geralmente sustentamos nossas escolhas em nossas emoções, e não no verdadeiro nível de risco. Tomar decisões com base no seu nível de medo não é uma maneira exata para calcular o risco. As emoções são muitas vezes irracionais e pouco confiáveis. Você não vai conseguir ser extraordinário sem correr riscos; e aprender a calcular com precisão o risco vai garantir que você faça as melhores escolhas.

  • 7. Debruçar Sobre o Passado


Refletir sobre o passado e aprender com ele é uma parte útil da construção de força mental, mas ruminá-lo pode ser prejudicial. Fazer as pazes com o passado para que você possa viver para o presente e planejar o futuro pode ser difícil, especialmente se você já passou por uma série de infortúnios, mas é um passo necessário para tornar-se o melhor de si.

  • 8. Repetir os Mesmos Erros De Sempre


Seria bom que ao aprender o suficiente de cada erro, ficássemos imunes para nunca mais repetir o mesmo erro. Mas a realidade é que estamos propensos a repetir os mesmos erros, às vezes. Aprender com os nossos erros exige humildade e uma vontade de procurar novas estratégias para se tornar melhor. Pessoas mentalmente fortes não escondem seus erros, ou dão desculpas para eles. Em vez disso, eles transformam seus erros em oportunidades de auto-crescimento.

  • 9. Se Ressentem pelo Sucesso dos Outros


Ver um colega de trabalho receber uma promoção, ou ouvir um amigo falar sobre suas realizações, pode provocar sentimentos de inveja. Mas se ressentir pelo sucesso de outras pessoas só vai interferir na sua capacidade de atingir seus objetivos. Quando você está seguro em nossa própria definição de sucesso, você vai parar de invejar outras pessoas para se empenhar em alcançar os seus sonhos.

  • 10. Desistem Depois de um Insucesso


É normal se sentir envergonhado, desanimado, e francamente derrotado quando suas primeiras tentativas não funcionam. Desde a infância nos ensinam que o fracasso é ruim, mas é quase impossível ter sucesso sem nunca falhar. Pessoas mentalmente fortes veem o fracasso como prova de que eles estão se empenhando até o limite em seus esforços para alcançar seu pleno potencial.

  • 11. Medo de Ficarem Sozinhas


No mundo rápido de hoje ter um pouco de tempo em silêncio, muitas vezes, demanda um grande esforço. Muitas pessoas evitam o silêncio e a solidão, porque se sentem desconfortáveis com a falta de atividade. Mas um tempo para si mesmo é um componente essencial para a construção de força mental. Pessoas mentalmente fortes criam oportunidades para ficarem a sós com seus pensamentos, refletir sobre o seu progresso, e criar metas para o futuro.

  • 12. Sentir que o Mundo Não lhes Deve Nada


É fácil ser pego em um sentimento de direito sobre nossa sorte. Mas esperar que o mundo - ou as pessoas nele - lhe deem o que você acha que estamos em dívida não é uma estratégia de vida útil. Se você estiver ocupado tentando tirar o que acha que merece, então você não terá tempo para se concentrar em tudo o que você tem para dar. E todo mundo tem dons que podem ser compartilhados, independentemente de estarem ou não "quites" com a vida.

  • 13. Esperar Resultados Imediatos


Não seria bom se tudo na vida pudesse acontecer com o toque de um botão? Nós geralmente crescemos tão acostumados com nosso mundo "sem linhas, sem espera", que nossos cérebros começam a acreditar que tudo deve acontecer instantaneamente. Mas o auto-crescimento se desenvolve mais em ritmo de um caracol, do que na velocidade da luz. Se você estiver tentando perder peso ou desenvolver uma atitude mais graciosa, lentidão e constância vencerão a corrida e esperar resultados imediatos só irão levar você à decepção. Pessoas mentalmente fortes sabem que a verdadeira mudança leva tempo e, por isto, elas estão predispostas a trabalharem duro para ver os resultados.

A boa notícia é que todo mundo tem a capacidade de construir força mental. Mas, para isso, você precisa desenvolver a auto-consciência sobre os pensamentos, comportamentos e sentimentos auto-destrutivos que o impedem de alcançar seu pleno potencial. Depois de reconhecer as áreas que precisam ser trabalhadas, o comprometimento com os exercícios de força mental o ajudarão a criar hábitos mais saudáveis e a construir os ´´músculos mentais´´.

Fonte: http://www.amymorinlcsw.com/mentally-strong-people/

Pastores Feridos - Por Marcelo Brasileiro

Pastores que abandonam o púlpito enfrentam o difícil caminho da auto aceitação e do recomeço.

Desânimo, solidão, insegurança, medo e dúvida. uma estranha combinação de sensações passou a atormentar José Nilton Lima Fernandes, hoje com 41 anos, a certa altura da vida. pastor evangélico, ele chegou ao púlpito depois de uma longa vivência religiosa, que se confunde com a de sua trajetória. criado numa igreja pentecostal, Nilton exerceu a liderança da mocidade já aos 16 anos, e logo sentiria o chamado – expressão que, no jargão evangélico, designa aquele momento em que o indivíduo percebe-se vocacionado por Deus para o ministério da palavra. mas foi numa denominação do ramo protestante histórico, a igreja presbiteriana independente (IPI), na cidade de são paulo, que ele se estabeleceu como pastor. graduado em direito, teologia e filosofia, tinha tudo para ser um excelente ministro do evangelho, aliando a erudição ao conhecimento das sagradas escrituras. contudo, ele chegou diante de uma encruzilhada. passou a duvidar se valeria mesmo a pena ser um pastor evangélico. afinal, a vida não seria melhor sem o tal “chamado pastoral”?

As razões para sua inquietação eram enormes. ordenado pastor desde 1995, foi justamente na igreja que experimentou seus piores dissabores. conheceu a intriga, lutou contra conchavos, desgastou-se para desmantelar o que chama de “estrutura de corrupção” dentro de uma das igrejas que pastoreou. mas, no fim de tudo isso, percebeu que a luta fora inglória. josé nilton se enfraqueceu emocionalmente e viu o casamento ir por água abaixo.  mesmo vencendo o braço-de-ferro para sanar a administração de sua igreja, perdeu o controle da vida. a mulher não foi capaz de suportar o que o ministério pastoral fez com ele. “Eu entrei num processo de morte. Adoeci e tive que procurar ajuda médica para me restabelecer”, conta. com o fim do casamento, perdeu também a companhia permanente da filha pequena, uma das maiores dores de sua vida.

Foi preciso parar.  No fim de 2010, José Nilton protocolou uma carta à direção de sua igreja requisitando a “disponibilidade ativa”, uma licença concedida aos pastores da denominação. passou todo o ano de 2011 longe das funções ministeriais. No período, foi exercer outras funções, como advogado e professor de escola pública e de seminário.  “acho possível servir a Jesus, independentemente de ser pastor ou não”, raciocina, analisando a vida em perspectiva. “Não acredito mais que um ministério pastoral só possa ser exercido dentro da igreja, que o chamado se aplica apenas dentro do templo. Quebrei essa visão clerical”. Reconstruindo-se das cicatrizes, Nilton casou-se novamente. e, este ano retornou ao púlpito, assumindo o pastoreio de uma igreja na zona leste de São Paulo. Todavia, não descarta outro freio de arrumação. “Acho que a vida útil de um líder é de três anos”, raciocina. “É o período em que ele mantém toda a força e disposição. Depois, é bom que esse processo seja renovado”. É assim que ele pretende caminhar daqui para frente: sem fazer do pastorado o centro ou a razão da sua vida.

Encontrar o equilíbrio no ministério não é tarefa fácil. que o digam os ex-pastores ou pastores afastados do púlpito que passam a exercer outras atividades ou profissões depois de um período servindo à igreja. Uma das maiores denominações pentecostais do país, a igreja do evangelho quadrangular (IEQ), com seus 30 mil pastores filiados – entre homens e mulheres –, registra uma deserção de cerca de 70 pastores por mês desde o ano passado. Os números estão nas circulares da própria igreja. Não é gente que abandona a fé em Cristo, naturalmente; em sua maioria, os religiosos que pedem licença ou desligamento das atividades pastorais continuam vivendo sua vida cristã, como fez José Nilton no período em que esteve afastado do púlpito. É que as pressões espirituais e as demandas familiares e pessoais dos pastores, nem sempre supridas, constituem uma carga difícil de suportar ao longo dos anos. Some-se a isso os problemas enfrentados na própria igreja, as cobranças da liderança, a necessidade de administrar a obra sob o ponto de vista financeiro e – não raro – as disputas por poder e se terá uma ideia do conjunto de fatores que podem levar mesmo aquele abençoado homem de Deus a chutar tudo para o alto.

A própria IPI, onde José Nilton militou, embora muito menor que a quadrangular – conta com cerca de 500 igrejas no país e 690 pastores registrados –, teria hoje algo em torno de 50 ministros licenciados, número registrado em relatório de 2009. Pode parecer pouco, mas representa quase dez por cento do corpo de pastores ativos. Caso se projete esse percentual à dimensão da já gigantesca igreja evangélica brasileira, com seus aproximadamente 40 milhões de fiéis, dá para estimar que a defecção dos púlpitos é mesmo numerosa. De acordo com números da fundação Getúlio Vargas, o número de pastores evangélicos no país é cinco vezes maior do que a de padres católicos, que em 2006 era de 18,6 mil segundo o levantamento centro de estatísticas religiosas e investigações sociais. porém, devido à informalidade da atividade pastoral no país, é certo que os números sejam bem maiores.

 

Feridos que ferem

O chamado pastoral sempre foi o mais valorizado no segmento evangélico. Por essa razão, é de se estranhar quando alguém que se diz escolhido por Deus para apascentar suas ovelhas resolva abandonar esse caminho. Nos Estados Unidos, algumas pesquisas tentam explicar os principais motivos que levam os pastores a deixar de lado a tarefa que um dia abraçaram. Uma delas foi realizada pelo ministério LifeWay, que, por telefone, contatou mil pastores que exerciam liderança em suas comunidades eclesiásticas. e o resultado foi que, apesar de se sentirem privilegiados pelo cargo que ocupavam (item expresso por 98% dos entrevistados), mais da metade, ou 55%, afirmaram que se sentiam solitários em seus ministérios e concordavam com a afirmação “acho que é fácil ficar desanimado”. Curiosamente, foram os veteranos, com mais de 65 anos, os menos desanimados. já os dirigentes das megaigrejas foram os que mais reclamaram de problemas. De acordo com o presidente da área de pesquisas da Life Way, Ed Stetzer – que já pastoreou diversas igrejas –, a principal razão para o desânimo pode vir de expectativas irreais. “Líderes influenciados por uma mentalidade consumista cristã ferem todos os envolvidos”, aponta. “Precisamos muito menos de clientes e muito mais de cooperadores”, diz, em seu blog pessoal.

Outras pesquisas nos EUA vão além. o instituto Francis Schaeffer, por exemplo, revelou que, no último ano, cerca de 1,5 mil pastores têm abandonado seus ministérios todos os meses por conta de desvios morais, esgotamento espiritual ou algum tipo de desavença na igreja. Numa pesquisa da entidade, 57% dos pastores ouvidos admitiram que deixariam suas igrejas locais, mesmo se fosse para um trabalho secular, caso tivessem oportunidade. E cerca de 70% afirmam sofrer depressão e admitem só ler a Bíblia quando preparam suas pregações. Do lado de cá do equador, o nível de desistência também é elevado, ainda mais levando-se em conta as grandes expectativas apresentadas no início da caminhada pastoral pelos calouros dos seminários. “No começo do curso, percebemos que uma boa parte dos alunos possui um positivo encantamento pelo ministério. Mais adiante, já demonstram preocupação com alguns dilemas”, observa o diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, o pastor batista Lourenço Stélio Rega. Ele estima que 40% dos alunos que iniciam a faculdade de teologia desistem no meio do caminho. os que chegam à ordenação, contudo, percebem que a luta será uma constante ao longo da vida ministerial – como, aliás, a própria bíblia antecipa.

E, se é bom que o ministro seja alguém equilibrado, que viva no espírito e não na carne, que governa bem a própria casa, seja marido de uma só mulher (ou vice-versa, já que, nos tempos do apóstolo Paulo não se praticava a ordenação feminina) e tantos outros requisitos, forçoso é reconhecer que muita gente fica pelo caminho pelos próprios erros. “O ministério é algo muito sério” lembra Gedimar de Araújo, pastor da igreja evangélica Ágape em Santo Antonio (ES) e líder nacional do ministério de apoio aos pastores e igrejas, o MAPI. “Se um médico, um advogado ou um contador erram, esse erro tem apenas implicação terrena. mas, quando um ministro do evangelho erra, isso pode ter implicações eternas.”

Desde que foi criado, há 20 anos, em Belo Horizonte (MG), como um braço do ministério servindo pastores e líderes (SEPAL), o MAPI já atendeu milhares de pastores pelo país. dessa experiência, Gedimar traça quatro principais razões que podem ser cruciais para a desmotivação e o abandono do ministério. “ativismo exagerado, que não deixa tempo para a família ou o descanso; vida moral vacilante, que abre espaço para a tentação na área sexual; feridas emocionais e conflitos não resolvidos; e desgaste com a liderança, enfrentando líderes autoritários e que não cooperam”, enumera. para ele, é preciso que tanto os membros das igrejas quanto as lideranças denominacionais tenham um cuidado especial com os pastores. “muitos sofrem feridas, como também, muitas vezes, chegam para o ministério já machucados. e, infelizmente, pastor ferido acaba ferindo”.

Quanto à responsabilidade do próprio pastor com o zelo ministerial, Gedimar é taxativo: “é melhor declinar do ministério do que fazê-lo de qualquer jeito ou por simples necessidade”. A rede de apoio oferecida pelo MAPI supre uma lacuna fundamental até mesmo entre os pastores – a do pastoreio. “É preciso criar em torno do ministro algumas estruturas protetoras. É muito bom que o líder conte com um grupo de outros pastores onde possa se abrir e compartilhar suas lutas; um mentor que possa ajudá-lo a crescer e acompanhamento para seu casamento e família e, por fim, ter companheiros com quem possa desenvolver amizades e relacionamentos saudáveis e sólidos”, enumera.

 

Expectativas


Juracy Carlos Bahia, pastor e diretor-executivo da ordem dos pastores batistas do brasil (OPBB), sediada no Rio de Janeiro, conhece bem o dilema dos colegas que, a certa altura do ministério, sentem-se questionados não só pelos outros, mas, sobretudo, por si mesmos. Ele lida com isso na prática e sabe que o preço acaba sendo caro demais. “Toda atividade que envolve vocação, como a do professor, a do médico ou a do pastor, é vista com muita expectativa. Quando se abandona esse caminho, é natural um sentimento de inadequação”. Para Bahia, o desencantamento com o ministério pastoral é fruto também do que entende como frustrações no contexto eclesiástico. Há pastores, por exemplo, que julgam não ter todo seu potencial intelectual utilizado pela comunidade. “Ás vezes, o ministro acha que a igreja que pastoreia é pequena demais para seus projetos pessoais”, opina. Isso, acredita Bahia, estimula muitos a acumularem diversas funções, além das pastorais. “Eu defendo que os pastores atuem integralmente em seus ministérios. Porém, o que temos visto são pastores-advogados, pastores-professores, enfim, pastores que exercem outras profissões paralelas ao púlpito”, observa.

No entender do dirigente da OPBB, esse acúmulo de funções mina a energia e o potencial do obreiro para o serviço de Deus. a associação reúne aproximadamente dez mil pastores batistas e Bahia observa isso no seio da própria entidade: “Creio que metade deles sofra com a fuga das atividades pastorais para as seculares”. contudo, ele acredita que deixar o ministério não é algo necessariamente negativo. “A pessoa pode ter se sentido vocacionada e, mais adiante na vida, por meio da experiência, das orações e interação com outros pastores, é perfeitamente possível chegar à conclusão que a interpretação que fez sobre seu chamado não foi adequada e sim emotiva”.

Quando, já na meia idade, casado e com dois filhos, ingressou no seminário presbiteriano do norte (SPN), na capital pernambucana, Recife, Francisco das Chagas dos Santos parecia um menino de tanto entusiasmo. nem mesmo as críticas de parentes para que buscasse uma colocação social que lhe desse mais status e dinheiro o desmotivou. “A igreja, para mim, é a melhor das oportunidades de buscar e conhecer meu criador para que, pela graça, eu continue com firmeza a abrir espaço em meu coração para que ele cumpra sua vontade em mim, inclusive no ministério pastoral”, anotou em sua redação para o ingresso no SPN, em 1998. ele formou-se no curso, foi ordenado pastor em 2003 e dirigiu igrejas nas cidades de Garanhuns e Saloá.

Hoje, aos 54 anos, Francisco trabalha como servidor público no instituto agronômico de pernambuco. ainda não curou todas as feridas e ressentimentos desde que, em 2010, entregou seu pedido de desligamento da denominação. Ele lamenta o tratamento recebido pelos seus superiores enquanto foi pastor. “Minha opinião sobre igreja não mudou. Nunca planejei um dia pedir licença ou despojamento do ministério. Mas entendo que somos o corpo de Cristo, e, se uma unha dói, todos nós estamos doentes”, pondera. “Não é possível ser pastor sem pensar em restaurar vidas – e existem muitas vidas precisando de conserto, inclusive entre nós, pastores”.

A vida longe dos púlpitos ainda não foi totalmente sublimada e Francisco sabe bem que será constantemente indagado sobre sua decisão de deixar o ministério. “A impressão é que você deixou um desfalque, que adulterou ou algo parecido”, observa. Ele não considera voltar a pastorear pela denominação na qual se formou, porém não consegue deixar de imaginar-se como pastor. “uma vez pastor, pastor para sempre”, recita, “muito embora as pessoas, em geral, acreditem que seja necessário um púlpito.”

Porta de saída

pesquisa realizada nos estados unidos traçou um panorama dos problemas da atividade pastoral...

 70% dos pastores admitem sofrer de depressão e estresse

80% deles sentem-se despreparados para o ministério

70% afirmam só ler a bíblia quando precisam preparar seus sermões

40% já tiveram casos extraconjugais

30% reconhecem ter reduzido as próprias contribuições às igrejas após a crise financeira

 ... e avaliou as consequências disso:

 1,5 mil pastores deixam o púlpito todos os meses

5 mil religiosos buscavam emprego secular no ano de 2009, mais do que o dobro do que ocorria em 2005

2 a 3 anos de ministério é o tempo médio em que os pastores deixam suas igrejas, sendo em direção a outras denominações ou não.

 

fontes: barna group, christian post, the wall street journal, instituto francis a. schaeffer e instituto jetro

Rebanho às avessas

A maioria dos pastores que se afastam de suas atividades ministeriais não abandona a fé em Cristo. Cada um deles, a seu modo, mantém sua vida espiritual e o relacionamento pessoal com Deus. Mas há quem saia do púlpito pela porta dos fundos, renegando as crenças defendidas com ardor durante tantos anos de atividade sacerdotal. Para estes – e, é bom que se diga, trata-se de uma opção nada recomendável –, existe a Freedom from Religion Foundation (“fundação para o fim da religião”), entidade criada por ninguém menos que o mais famoso apologista do ateísmo da atualidade, o escritor britânico Richard Dawkins, autor do best-seller Deus, um delírio. ele e um grupo de céticos lançaram o projeto clero, iniciativa que visa a apoiar ex-clérigos – pastores, padres, rabinos – no reinício da vida longe das funções religiosas. “sacerdotes que perdem sua fé sofrem uma penalização dupla. Eles perdem seu emprego e, ao mesmo tempo, sua família e a vida que sempre tiveram”, argumenta Dawkins, no site do projeto. Não se tem notícia confiável de quantos ex-líderes aderiram ao projeto clero, mas parece óbvio que a ideia do refúgio ateu não é apenas abraçar sacerdotes cansados da vida religiosa, mas também engrossar o rebanho crescente daqueles que repudiam a possibilidade da existência de Deus.

Mudança difícil

Não foi uma escolha fácil. quando o ex-pastor batista Osmar Guerra decidiu que seu lugar não era mais o púlpito, logo foi fustigado por olhares de decepção das pessoas que estavam ao seu redor e acreditavam em seu trabalho espiritual. Afinal, desde menino ele era o “pastorzinho” de sua igreja em Piracicaba, no interior paulista. desinibido e articulado, o garoto, bem ensinado pelos pais na fé cristã, apresentava uma natural vocação para o pastorado. por isso, foi natural sua decisão de matricular-se Faculdade Teológica Batista de São Paulo e, após os anos de estudo, assumir a função de pastor de adolescentes da igreja batista da água branca (IBAB), na capital paulista.

Começava ali uma promissora carreira ministerial. Osmar dividia seu trabalho entre as funções na igreja e as aulas de educação cristã, lecionadas no tradicional Colégio Batista. Tempos depois, o pastor transferiu-se para outra grande e prestigiada congregação, a igreja batista do Morumbi. Mas algo estava fora de sintonia, e Osmar sabia disso. Toda sua desenvoltura na oratória, sua capacidade de mobilização e seu espírito de liderança poderiam não ser, necessariamente, características de uma vocação pastoral. e, como dizem os jovens que ele tanto pastoreou, pintou uma dúvida: seu lugar era mesmo diante do rebanho?  “Eu era um excelente animador. mas me faltava vocação, e fui percebendo isso cada vez mais”.

O novo caminho, ele sabia, não seria compreendido com facilidade pela família, pelos amigos e pelas ovelhas. mas ele decidiu voltar a estudar, e escolheu a área de rádio e TV. e, mesmo ali, não escapou do apelido de “pastor”, aplicado pela turma. Quando conseguiu um estágio na TV record, percebeu que ficava totalmente à vontade entre os cenários, as produções e os auditórios. Com seu talento natural, Osmar deslanchou, e o artista acabou suplantando o pastor. Depois de pedir demissão da igreja, em 2005, ele galgou posições na emissora e hoje é o produtor de um dos programas de maior sucesso da casa, o melhor do Brasil, apresentado pelo Rodrigo Faro.

“Durante muito tempo, fiquei em crise”, reconhece hoje, aos 31 anos. “Tive medo de tomar a decisão de deixar de ser pastor. Mas, hoje, sinto-me mais confiante e honesto comigo mesmo e perante os outros”, garante. longe do púlpito, mas não de Jesus, Osmar Guerra continua participativo na sua igreja, a IBAB, onde toca e canta no louvor. De sua experiência, ele se acha no direito de aconselhar os mais jovens. “defendo que, antes do seminário, as pessoas busquem formação em outras áreas, ainda mais quando são novas”, diz. isso, segundo ele, pode abrir novas possibilidades se o indivíduo, por um motivo qualquer, sentir-se desconfortável no púlpito. Contudo, ele não descarta o valor de um chamado genuíno: “se, mesmo assim, a vontade de se tornar um pastor continuar, isso é sinal de que o caminho pode ser esse mesmo.”