quarta-feira, 25 de junho de 2014

Reflexões sobre a entrevista do Caio no "The Noite"

Caio não tem "papas" na língua, fala com uma clareza assustadora mesmo quando "viaja" nas suas indagações. Uma entrevista histórica em meio a alienação da "Copa das copas". Brindou a noite com argumentos profundos e desmitificou sofismas da cultura clerical brasileira e porque não dizer latino-americana. Para uns um "desviado" para outros um "profeta", uma relação de amor e ódio na cultura evangélica. Mas como ele mesmo diz simplesmente "Caio" no caminho da graça. Caio não é um "rebelde sem causa". Seu discurso é contrário a uma estrutura clerical medieval da "culpa" e do "medo". Esses mesmos lideres a quem muitas vezes serviu. Já passou da hora desses mesmos lhe estenderem a mão cumprindo a missão do evangelho que é o exercício da graça e da misericórdia. Nesse post a autora Braulia Ribeiro, articulista da Revista Ultimato e cooperadora do blog Genizah, faz uma análise do discurso sobre o prisma sociológico, muito bem escrito, de uma forma rápida, texto enxuto,  haja vista que a entrevista  foi exibida no 23/06, vale a pena conferir e guardar. Polêmica pra uns, crescimento para outros. Bom te ver e ouvir Caio, Deus te abençoe sempre!!!



from: Genizah 


Ontem numa entrevista de Caio Fábio a Danilo Gentili (THE Noite, SBT) suscitou muitos comentários imbecis pelo Brasil afora.

Pisar no território que circunda Caio é muito arriscado. Ele foi, e sem dúvida continua sendo, de uma imensa importância para o contexto evangélico brasileiro, e nos revela muito sobre nós mesmos. Inclusive a entrevista exibida ontem (24/06/14). Se você quiser se divertir com a polaridade dos pontos de vista, leia a tweetfeed de ontem com a #caiofabio. Não existe meio termo. O homem ou é o diabo ou é um semideus.

Por isto vai ser impossível sair deste artigo ilesa. O Caio inspira ódios extremos e amores extremos. Minha pretensão neste artigo é dar uma olhada rápida no paradigma de liderança da cultura brasileira. No meu ponto de vista a “questão Caio” não foi apenas dele como indivíduo, mas de todos nós que cultivamos e permitimos que esta cultura disfuncional se perpetue.

Digo que o problema mora na cultura brasileira no sentido genérico e não cultura evangélica, porque os aspectos aos quais vou me referir não são exclusividade dos evangélicos mas fazem parte da nossa formação cultural nacional. Refletem partes de nossa identidade que não conseguimos despir, que mesmo estudando a Bíblia não fomos capazes de desconstruir para transformar. Revisitar axiomas culturais e repensar valores à luz da Palavra é essencial para saúde espiritual, mas é uma tarefa muito árdua. Me ajude aqui. Se você tem algum “insight” a acrescentar vou publicar seu comentário.

É importante lembrar também de que as deformações culturais humanas convivem com a revelação de Deus desde sempre. A revelação divina não tem o poder em si mesma de tornar as culturas perfeitas. É apenas um farol no meio delas. Na narrativa bíblica percebemos isto claramente. A busca pela transformação tem que ser uma busca humana. Não é trabalho de Deus transformar culturas, mas nosso.

Vou fazer um pulo fora do assunto Caio, para discutir um pouco o modelo cultural de liderança que marcou a sua era, e infelizmente feriu a ele e a muitos. Depois volto à aplicação. Tenha paciência.

O paradigma cultural de liderança

O paradigma cultural de liderança é obvio o suficiente para ser reconhecido sem muito estudo. Mas podemos dissecá-lo um pouco.

Por causa da posição, líderes são alçados à uma condição supra-humana.
No espaço religioso ou no espaço de trabalho o líder tem que ser mais do que um mero colega. Ele tem que demonstrar qualidades que o colocam acima dos vis mortais, e se portar como se não fosse apenas mais um do rebanho para obter respeito. No mundo religioso esta nuance de ser um ser “melhor” que outros por isto líder, torna-o um semi-Deus.

Liderança é posição e não função

Liderança te atribui uma posição na escala social verticalizada brasileira. Usamos a linguagem hierárquica e posicional em nosso dia a dia. “Quem está acima de você?” “Um homem na minha posição…” “Galguei este espaço…” etc.

Na cultura brasileira em que identidade pessoal é definida de acordo com o valor que o grupo te atribui, o conceito de liderança verde amarelo fica inerentemente preso à noção de valor atribuído. (Você sabe com quem está falando?)

A sociedade brasileira é verticalizada. As pessoas se inserem em camadas que definem sua maior ou menor “importância” dentro do tecido social. Não seria possível falar de pessoas mais ou menos “importantes” o conceito de valor individual fosse o conceito bíblico. Na Bíblia indivíduos são importantes por causa de sua natureza única não pelo que possam representar para a sociedade. (Matta 1997)

Infelizmente esta ideia pagã de valor social é travestida de linguagem bíblica na cultura religiosa. O pastor é “anjo” da igreja, o profeta, apóstolo. Infelizmente repetimos a igreja Católica na sua cultura clericalizada, que refletia a hierarquia dos países monárquicos onde ela foi nutrida. O clero é a nobreza, e os outros os comuns.


A distância impossibilita o diálogo- o líder não pode ser vulnerável

Não existe espaço para a vulnerabilidade do líder: fraquezas tem que ser necessariamente maquiadas ou escondidas ou o líder perde a posição. Portanto, poucos tem a coragem de se mostrar humanos. Líderes tem que ser necessariamente auto-suficientes porque não podem depender de outros, pelo menos não abertamente.

O líder brasileiro é extremamente solitário. Ele não pode expor suas dores e dúvidas aos “comuns”, ou seja aos que estão “debaixo” dele, e não pode expô-las a seus colegas, outros líderes. Porque ali se compete mutuamente. Também não há espaço para sua humanidade. Se um líder busca conselhos, o faz com alguém que considere “superior” a si. Se ele está no topo da pirâmide, então não tem a quem consultar. Fica amargando seus tormentos internos sozinho. Ou se é capaz de se abrir com seus colegas, não vai ouvir repreensão, discordância, mas aquiescência.

Não se confronta liderança, mas se fala por trás

Numa sociedade onde meu valor é determinado pela posição que ocupo junto a liderança, qualquer discordância é extremamente perigosa. Se ouso confrontar ou apenas discordar da liderança me arrisco a perder o favor social que tenho. Então o que faço? Minha discordância tem que ser expressada de alguma forma para que eu continue me sentindo humano. A cultura providencia então um espaço para dissonância. É um espaço inicialmente marginal, mas que se legitima à medida que a dissonância cresce. É o que chamamos de “falar pelas costas”.

Não é pecado no Brasil falar mal de líder para outros, desde que se justifique fantasiando com “preocupação”, “vamos orar”, aliás este “falar nas costas” é quase uma obrigação do liderado.

O comportamento do indivíduo fica à mercê de duas forças culturais que se opõe. A primeira que vamos dizer que metaforicamente opera de cima pra baixo é a necessidade de lealdade. O estilo de liderança aqui promove a lealdade acima da competência. O sujeito quer ser leal, porque a lealdade é vista como virtude. Esta lealdade o compele a aceitar calado os erros do líder, a tecer-lhe elogios constantes mesmo quando não merece, a fazer vista grossa a seus problemas. Ele sabe que sua sobrevivência no sistema depende desta dinâmica.

A outra força compele o sujeito pra cima. Todo mundo quer mais espaço, quer ser visto, quer “vencer”. Como o modelo de lealdade cega não promove baseado em competência mas relacionamento, cria um espaço para a constante insegurança. Bolman and Deal, autores do best-seller “Reframing Organizations” descrevem esta atmosfera de liderança chamando-a de “Cenário Político” e até usam a metáfora da lei da selva para descrevê-lo. E é um modelo usado até intencionalmente em culturas organizacionais de empresas com excesso de individualismo. Ou seja, porque a liderança não se define por valores coletivos, e/ou não atribui ao indivíduo valor nem espaço para tomada de decisões, se estabelece o vale tudo.

A essência desta cultura de liderança é o conflito de poder e as coalisões baseadas em interesses mútuos. A definição essencial de liderança neste contexto é “um processo realista de tomada de decisões e alocação de recursos no contexto de interesses divergentes e de necessidade.”(Bolman 1991, 181) Ou seja se beneficia aquilo que se interessa, para se obter o que interessa.

A cultura de vergonha não permite a redenção

Vamos rever rapidinho o conceito de culturas de vergonha e culturas de culpa. Apesar da antropologia moderna procurar não fazer julgamento de valor sobre culturas melhores ou piores que outras, o fato é que alguns conceitos essenciais tem consequências sociais irrefutáveis. A cultura latino-americana tem sido uma cultura de vergonha, provavelmente uma herança da dominação moura de 700 anos sobre a península. (Para uma leitura sobre honra/vergonha na América Latina veja (Johnson 1998)). Culturas de vergonha empregam desgraça social como sanção para comportamento fora da norma. A vergonha social destitui o individuo de seu valor inerente. Ele não é mais a pessoa, se torna o pecado, ou o crime que cometeu. Culturas de culpa inserem o fator redenção no processo de sanção. Resume-se o conceito assim: em culturas de culpa – eu fiz algo errado, em culturas de vergonha – eu sou um erro.

Paul Hiebert (1985) explica que em culturas de culpa existe o alívio: a confissão. Em culturas de culpa está estabelecida a redenção através da devida punição. Uma vez punido e redimido o indivíduo tem seu espaço restaurado porque seu valor em nenhum momento foi colocado em questão. Em culturas de vergonha tornar seu pecado/problema público só exacerba a dor. Quanto mais pessoas sabem, mais vergonha se acumula, menos compaixão se recebe. A vergonha culmina na execração pública total, o ostracismo. Numa cultura de vergonha não existem mecanismos pré-estabelecidos de redenção social. Uma vez pecador, sempre pecador. É impossível de se recuperar a dignidade. O escárnio público sempre vai acompanhar o dissonante.

Depois que a dissolução de seu casamento veio a público Caio sabe que não há redenção possível para si dentro do universo cultural brasileiro. A pecha do adultério vai sempre estar sobre a sua cabeça. O que ele faz? Se volta contra ela. Se estabelece como oráculo de uma nova moral anti-moral.


O Caio não pretendeu ser perfeito, nem se colocou na posição de semi-Deus. Pelo contrário descreveu bem a síndrome dos que se embriagam de poder. Mas infelizmente não deixou de ser vítima da cultura que o endeusou. Esta cultura é inescapável. Enquanto nós não a destruirmos, intencionalmente, desmascarando-a, despindo-a do falso glamour que tem, colocando-a no raio X.

Erros de um ídolo?

1. Ele chama a hipocrisia brasileira de hipocrisia evangélica ou religiosa.

Mas os mecanismos de comportamento que o levaram ao ostracismo e à vergonha não são cristãos. Pelo contrário a verdadeira cultura cristã é a cultura da culpa, não da vergonha. Em Cristo todos somos encontrados pecadores e somos todos redimidos. Em Cristo o meu pecado e o seu se igualam assim como a redenção que nos é oferecida na cruz. Foi a hipocrisia da cultura brasileira não redimida por Cristo que o condenou.

2. Ele não torna pública a sua jornada de perdão.

Se Caio perdoou ou não seus algozes é problema interno dele. Não julgo o seu coração. Um homem que prega e conhece a graça conhece também o poder do perdão. Mas seu perdão não é público, sua graça não é pública. Não existe perdão oculto se o pecado foi público. Assim como não existe a graça que discrimina entre este ou aquele grupo. O caminho da graça tem que estar aberto para todos inclusive aos inimigos.

Amo uma música do Atilano Muradas que nos chama a amar os pobres e as crianças abusadas, mas também a amar os políticos corruptos e os abusadores que praticam a violência contra a crianças. Me lembro que engasguei na primeira vez que ouvi a canção. Mas se não posso amar os mais vis pecadores (inclua nesta lista os religiosos) não posso professar a cruz.

3. A partir dele, se criou uma ambiguidade na mensagem cristã.

Se não existe pecado ou o mal não pode existir também a redenção. A graça só existe porque existe o mal. Na era pós-Caio muitos embarcaram na mensagem ambígua e híbrida da cruz sem pecado. A culpa não é dele mas a coisa virou um fenômeno cultural, típico de um país de análises superficiais e argumentos vazios. Uma vez numa conferência com outros líderes numa conversa com um garoto pastor de uma igreja percebi que ele se vangloriava do pecado na sua igreja como se fosse algo não só aceitável mas desejável.

Não podemos nos esquecer do paradoxo da cruz. Porque sou amado como estou, com meus pecados e imperfeições sou impelido para uma busca do amor, da santificação de vida (que no original hebraico significa ordem), da reforma moral.

A luz do amor de Cristo brilha nas trevas para iluminá-la não para torná-la mais densa. Meu relacionamento com Cristo não se baseia na compra e venda de minhas boas ações e se justifica na minha pseudo-santificação. Mas o amor dele me faz melhor.

Se usássemos a fórmula do AA (Alcoólatras Anônimos) nas nossas reuniões seríamos certamente mais saudáveis. “-Oi. Sou a Braulia. Pecadora e muito.” Não me dou o direito de julgar ninguém, porque maior é a misericórdia que o juízo.

Salve Caio. Parabéns pela entrevista. Sigamos juntos no Caminho.


Braulia Ribeiro escreve para Ultimato e colabora com Genizah


Referências


Bolman, Lee G. Deal Terrence E. 1991. Reframing Organizations : Artistry, Choice, and Leadership. San Francisco: Jossey-Bass.

Hiebert, Paul G. 1985. Cultural Anthropology. Grand Rapids, Mich.: Baker Book House.

Johnson, Lyman L. Lipsett-Rivera Sonya. The Faces of Honor Sex, Shame, and Violence in Colonial Latin America. University of New Mexico Press 1998. Available from http://public.eblib.com/EBLPublic/PublicView.do?ptiID=1594549.

Matta, Roberto da. 1997. Carnavais, Malandros E Herûis : Para Uma Sociologia Do Dilema Brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco.

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Comentários de Danilo Fernandes


Tenho sido cobrado a comentar a entrevista do Caio.

Escolhi fazer isto aqui, na carona do artigo da Braulia Ribeiro.

Achei a análise da Braulia brilhante, na verdade, a única opinião inteligente que li até agora sobre o assunto. Abriu a conversa para ver a questão toda do ponto de vista sociológico, que é mesmo o viés que faltava ser explorado, para além do lenga-lenga e do rame-rame de sempre dos horrorizados leitores das orelhas mal lidas dos compêndios teológicos… 

É assustador constatar que só há uma meia dúzia de opiniões -para um lado ou para outro, diga-se- que vale a pena ser ouvida em toda a igreja evangélica. Fiquei feliz de ter ouvido uma opinião -crítica ao Caio, negativa mesmo- mas muito inteligente ontem no Mackenzie. Espero que o autor se disponha a escrever sobre o que me disse. Vai ser bom promover um debate de alto nível!

Voltando ao artigo da Braulia...

Acho bom que se vire o disco com a proposição de novos  questionamentos entre os  que formam opinião,  já que a massa seguidora sempre irá cheirar o rabo do que vai à frente… E, cá para nós, a maioria já agrega mofo ao fedor habitual.

As questões teológicas, as discussões periféricas sobre ETs , babas e física quântica,  os possíveis juízos breves não me interessam de maneira alguma. Tenho a felicidade de poder desfrutar da fonte, muitíssimo mais do que cabe em 30 minutos de um talk show e tenho tido a oportunidade de discordar e concordar com o que me parece bem, ou não.  Caio é meu mano. Sei o que ouço e tenho ouvido e aconselho a quem queira saber que o assista, sempre que puder, no seu espaço na Vem e Vê TV onde ele segue dizendo o que diz desde muito tempo e, a quem restarem dúvidas, que pergunte a ele próprio pois, em sua generosidade imensa, nunca deixa ninguém sem resposta. E bíblica! E quem seguir discordando,  à luz do que conhece da Palavra e do caminhar com Deus, o que é um direito de cada um, sempre será enriquecido com a inteligência do debate, mesmo quando seguir convicto do que já cria e segue crendo. 

Já  no que tange aos questionamentos da alma, àqueles relacionados à misericórdia e ao perdão de almas também perdoadas, já não carrego mais a esperança de ver o amor sobrepujar o ódio e os corações se voltarem ao próximo entre o povo que se diz "de" "deus".  Com a massa evangélica, se não é a burrice que inviabiliza o entendimento é o ódio ou a ganância que servem de anti-aderente para o encontro da alma com o Amor. Como  profetizado nas Escrituras, vale dizer.

Caião, seguimos nus pelo Caminho, porém vestidos. Risos!

Danilo Fernandes


PS: Muito do que disse Braulia está na boca do próprio Caio aqui:







Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/2014/06/sobre-entrevista-do-caio.html#ixzz35gQUjA1j
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segunda-feira, 16 de junho de 2014

“Ninguém nasce ‘gay’, nem ‘sai do armário’” – Os perigos da propaganda homossexual na mídia conservadora

“Ninguém nasce ‘gay’, nem ‘sai do armário’” – Os perigos da propaganda homossexual na mídia conservadoraFelipe Moura Brasil – http://www.veja.com/felipemourabrasil

No artigo Sabe de nada, inocente: Wagner Moura e censura a Compadre Washington são duas faces da mesma moeda ideológica – a praga do politicamente correto, eu mostrei como este último – o vulgo PC – é uma ferramenta revolucionária de genocídio cultural desenvolvida pela Escola de Frankfurt e destinada a desarmar a cultura ocidental para que ela não possa se defender de ataques provenientes de “minorias” internas ou de culturas concorrentes. O artigo abaixo, cuja versão em português trago em primeira mão para este blog, desfaz os mitos sobre a homossexualidade e lista algumas das barbaridades que acontecem quando uma dita “minoria” é superprotegida até mesmo pela mídia conservadora de um país como os Estados Unidos, mídia esta que deveria defendê-lo contra os incessantes ataques à família, à liberdade e à Constituição – os mesmos que estão acontecendo no Brasil (e está aí o sr. Jean Wyllys, que não me deixa mentir). Aos histéricos de plantão, um aviso: querer muito que alguma coisa seja de um jeito não quer dizer ela é, ok? De resto: o “mimimi” é livre.
fox-newsPor que os conservadores na mídia compram a propaganda homossexual?
Escrito por Stephen Baldwin, em maio de 2014
Tradução: Gabriel Marini, sob encomenda e revisão de Felipe Moura Brasil, da VEJA.
Nos últimos anos, testemunhamos uma corrida precipitada, por parte de muitos conservadores na mídia, para apoiar diversos aspectos da agenda homossexual. Alguns deles já eram totalmente liberais em questões sociais e alguns parecem ser impelidos a tal posição pela pressão de colegas ou das corporações midiáticas em que trabalham. Independentemente, é perturbador testemunhar a disposição deles em acompanhar essa tendência sem sequer questionar o impacto cultural trazido por tais questões. Francamente, causa embaraço a ignorância de muitas das “nossas” estrelas conservadoras na mídia quando se trata da agenda homossexual.
De fato, até a Fox News ignorou grandes notícias que refletiram negativamente o movimento homossexual e, nas poucas oportunidades em que cobriram tais notícias, foram muitas vezes reportadas de maneira imprecisa ou incompleta. Eu franzo meu semblante enquanto assisto a Bill O’Reilly, Tucker Carlson, Dana Perino, Bernie Goldberg, Mary Catherine Hamm, Megyn Kelly, Shepard Smith, Margaret Hoover e outros usarem os mesmos argumentos usados pela comunidade homossexual ao ponto de utilizarem, exatamente, as mesmas frases e as mesmas palavras de efeito. Eles deveriam se tocar.
Por exemplo, muitos conservadores na mídia, alegremente, usam o termo “gay” ou “direitos dos homossexuais”, assim como frases como ele ou ela “saiu do armário”. Entretanto, esse tipo de colocação parte do pressuposto que pessoas nascem homossexuais, um mito que nem a Associação Americana de Psiquiatras, pró-gay, apoia mais. Após anos de pesquisas, dúzias de cientistas pró-homossexuais falharam em encontrar o gene homossexual e os poucos que afirmam terem encontrado foram posteriormente desacreditados por usarem metodologias fraudulentas ou descuidadas. Além do mais, o Dr. Francis Collins, chefe do Projeto Genoma Humano, reuniu mais de 150 dos maiores geneticistas para a decodificação do genoma humano e eles não conseguiram encontrar um gene “gay”. Ele simplesmente inexiste.
Sejamos claros para que o pessoal da Fox News possa entender. Ninguém é “gay” ou nasce “gay”. Em vez disso, pessoas passam por um período de comportamento homossexual. Ninguém “sai do armário”. Em vez disso, elas simplesmente escolhem tornar público o comportamento homossexual. Outra evidência que a homossexualidade não é genética é a fluidez do comportamento homossexual. Mais de um terço dos homossexuais retorna à heterossexualidade, como Kinsey, Masters & Johnson e outros numerosos pesquisadores esquerdistas da sexualidade já reportaram.
Além disso, a própria existência de milhares de ex-homossexuais na América demonstra quão experimental realmente é a homossexualidade. E, sim, devido à natureza viciante do comportamento homossexual, alguns ex-homossexuais fraquejam, assim como alguns viciados em drogas, alcoólatras e outros escravizados por comportamentos viciantes. Nenhuma surpresa por aqui.
Entretanto, se a homossexualidade não é permanente, ela é, portanto, causada por questões ambientais e comportamentais que claramente não são comparáveis aos traços inatos como raça ou gênero. Por que estamos, então, criando uma pletora de leis baseadas em um comportamento sexual? Sejamos claros sobre as leis de “direitos homossexuais”. A maior parte delas é ilegal, no sentido de que elas criaram cenários jurídicos que, cada vez mais, violam os verdadeiros direitos constitucionais dos americanos.
Sempre que alguém cria direitos artificiais, baseados em um comportamento particular que não é de nascença, tais “direitos” aparecem à custa dos verdadeiros direitos constitucionais. Uma pessoa não saberia disso vendo ou lendo os jornais, mas o movimento dos “direitos gays” lançou o maior ataque aos nossos direitos constitucionais na história do nosso país. Deixe-me resumir, rapidamente, os diversos campos de batalha:
Liberdade de Expressão/Imprensa:
⎯ Americanos por todo o país estão recebendo ameaças de morte por se posicionarem contra o casamento gay;
⎯ Estudantes foram suspensos de escolas por darem voz a visões tradicionais sobre o casamento ou por vestirem camisetas com slogans como “orgulho hétero”. Enquanto isso, estudantes homossexuais podem vestir camisetas do “orgulho gay”;
⎯ Professores do ensino médio foram demitidos por ensinarem pontos de vista tradicionais sobre sexualidade;
⎯ Uma música do Dire Straits foi banida no Canadá por conter uma alegada difamação sobre homossexuais. Leis similares estão a caminho nos EUA;
⎯ Professores e outros trabalhadores perderam empregos pela oposição à agenda homossexual no Facebook em seus horários privados;
⎯ O site de encontros eHarmony foi processado por não incluir casais do mesmo sexo;
⎯ O Youtube tirou do ar vídeos críticos à agenda homossexual;
⎯ Uma pessoa foi detida na fronteira canadense por possuir um artigo deste autor que simplesmente reproduzia as declarações e ações pró-pedofilia de alguns líderes homossexuais;
⎯ O Departamento de Justiça [Department of Justice, equivalente ao nosso Ministério da Justiça] do governo Obama editou uma regulamentação que orienta os empregados federais a promover o “mês do orgulho gay”. Incrivelmente, ela declara que “o silêncio será interpretado como desaprovação”;
⎯ Esforços estão a caminho para banir atores e estrelas de reality shows, como Phil Robertson [do programa Duck Dinasty], por possuírem visões tradicionais sobre a sexualidade.
Direitos Eleitorais/Participação Política:
⎯ Doadores a iniciativas em prol do casamento tradicional estão sendo assediados, ameaçados de morte e perdendo empregos e empresas. Recentemente, o CEO da Mozilla [Brendan Eich] foi demitido por ter contribuído a uma iniciativa pró-casamento tradicional na Califórnia, seis anos atrás;
⎯ Em ao menos uma dúzia de estados, ativistas pró-casamento tradicional foram atacados fisicamente e feridos por distribuir material de apoio a projetos de lei pró-casamento tradicional.
Aplicando a Justiça Desigualmente:
⎯ Projetos de lei de crime de ódio estão sendo tornados leis de fato em estados por todo o país, criando um padrão com dois níveis na aplicação de nossas leis. Se uma pessoa agride uma mulher aleijada em uma cadeira de rodas e, em seguida, agride um homossexual, ela receberá uma sentença maior pelo último crime. À medida que cria diferentes penalidades para o mesmo crime, baseadas no comportamento sexual da vítima, essas leis são claramente inconstitucionais. São também baseadas no conhecimento do que está no coração da pessoa que comete o crime, algo que os promotores nunca poderão saber. Novamente, esse é um tipo de lei de polícia do pensamento e, claramente, um precedente perigoso.
Liberdade de Religião:
⎯ Por toda a América, proprietários cristãos estão sendo assediados por se recusarem a alugar imóveis a homossexuais e transexuais, apesar de suas objeções morais a tal estilo de vida;
⎯ Governos estaduais e tribunais estão forçando empresas ⎯ tais como boleiros de casamento ⎯ a fazer negócios com casais homossexuais. Mas ninguém está forçando empresários negros a trabalhar com racistas;
⎯ Governos estaduais multaram fotógrafos cristãos, pois eles se negaram a fotografar casamentos homossexuais. Mas um estado multaria um gráfico judeu por se recusar a imprimir uma brochura nazista? Claro que não;
⎯ Agências de adoção cristãs estão sendo obrigadas por governos estaduais a alocar crianças em famílias homossexuais, apesar das fortes evidências de que tais famílias NÃO provêm à criança as bases para o devido desenvolvimento que famílias normais provêm.
⎯ Por todo o país, pastores que pregam a moralidade tradicional estão recebendo ameaças de morte, e suas igrejas estão sendo vandalizadas;
⎯ Pastores no Canadá e na Europa estão sendo multados e/ou presos, simplesmente por pregarem o que a Bíblia claramente nos ensina sobre o comportamento homossexual. É apenas uma questão de tempo para que isso aconteça na América;
⎯ Um pastor americano está sendo processado por uma entidade homossexual estrangeira por conta de um sermão que simplesmente repetiu a proibição bíblica à homossexualidade;
⎯ Pessoas que possuem opiniões contrárias à agenda homossexual estão sendo barradas em empregos em agências governamentais. Cristãos perderam empregos no setor privado por expressarem visões contra a agenda homossexual em foro íntimo, que nada tinha a ver com seus trabalhos;
⎯ Escolas cristãs privadas estão sendo multadas por se recusarem a contratar homossexuais;
⎯ A lei federal ENDA (Employment Non-Discrimination Act, Lei de Não-Discriminação no Trabalho, que proíbe a discriminação por opção sexual ou gênero na administração de funcionários) resultará em um tsunami de processos contra empresários e empresárias cristãos por viverem suas crenças religiosas.
Segurança Pública
⎯ Escolas estão iniciando uma dúzia de novos programas pró-homossexuais, designados para promover o estilo de vida homossexual para crianças tão novas como os alunos do jardim-de-infância. Isto apesar da grande quantidade de evidências de que o estilo de vida homossexual é extremamente perigoso e pode diminuir a expectativa de vida de um dado indivíduo;
⎯ Leis estaduais estão sendo assinadas por todo o país, permitindo que homens que afirmem ter sentimentos femininos entrem em banheiros femininos, criando, portanto, situações que levarão ao abuso sexual;
⎯ A empresa Macy’s demitiu um funcionário por ter impedido um homem travesti de usar o provador feminino;
⎯ A administração Obama emitiu regulamentação federal para proibir empregadores de proibirem homens travestis de usar banheiros femininos;
⎯ Governos estaduais continuam a entregar crianças problemáticas a group homes [espécie de residência privada para jovens com problemas familiares ou problemas físicos crônicos] e outros programas do tipo que possuem longos históricos de estupros homossexuais. Esses grupos NUNCA perdem suas licenças estaduais.
Direitos de Associação:
⎯ Apesar de mais de 3.000 abusos sexuais realizados por líderes escoteiros e outros líderes da juventude, leis de “orientação sexual” estão sendo passadas em estados que forçam grupos como os Escoteiros e a YMCA [Young Men’s Christian Association, cuja ramificação brasileira é a Associação Cristã de Moços] a aceitar empregados homossexuais;
⎯ A Califórnia propôs uma lei para proibir Escoteiros de servirem como juízes, devido ao veto contra homossexuais serem líderes em tal organização;
⎯ Grupos estudantis cristãos não são reconhecidos pelas escolas caso excluam estudantes homossexuais, apesar das claras proibições bíblicas contra tal comportamento;
⎯ Estudantes do Ensino Médio foram forçados a aceitar colegas de quarto homossexuais, e um estudante que se recusou a morar com um homossexual foi multado e enviado para um treinamento de sensibilidade;
⎯ Hotéis foram processados por se recusarem a locar áreas para casamentos homossexuais.
Direitos dos Pais:
⎯ Hillary Clinton proferiu um discurso em encontro das Nações Unidas em 2011 dizendo que nossas casas deveriam ser monitoradas pelo governo por qualquer desencorajamento da homossexualidade, e os pais que se danem;
⎯ Desde já, na Europa e no Canadá, homeschoolers foram banidos de ensinar contra a homossexualidade dentro de suas próprias casas. Eu posso assegurar a vocês, isso está vindo para a América;
⎯ Estados estão passando leis que removem a necessidade de permissão dos pais para programas que promovam a homossexualidade para crianças na escola;
⎯ Pais cristãos foram impedidos de aceitar filhos adotivos porque eles possuem visões tradicionais sobre a sexualidade.
Direitos dos Médicos e dos Psicólogos:
⎯ Leis estão sendo introduzidas para permitir que governos estaduais cancelem a licença de médicos especialistas em fertilidade por se recusarem a realizar inseminação artificial em lésbicas;
⎯ Psicólogos foram demitidos por se recusarem a dar conselhos pró-homossexuais a homossexuais;
⎯ Médicos sofreram retrocesso na carreira por questionarem operações de mudança de sexo;
⎯ Apesar de milhares de homossexuais terem passado, com sucesso, por terapia para mudança de comportamento, leis foram criadas para banir o direito de psicólogos realizarem esse tipo de terapia;
[Antes de ter um ataque histérico repetindo o chavão da "cura gay" - projeto, aliás, que nunca existiu -, ver "Psicólogos e psicopatas", p. 516 do nosso best seller.]
⎯ Apesar dos efeitos nocivos, já documentados, do estilo de vida homossexual, estados estão passando leis que previnem que profissionais da área médica e psicólogos digam algo a uma criança sexualmente confusa, a não ser que afirmem ou defendam o comportamento homossexual;
⎯ Organizações que aconselham homossexuais a deixarem o estilo de vida foram sujeitas a ameaças de morte, assédio e danos à propriedade;
⎯ Estudantes de universidades públicas, estudando para serem psicólogos, foram excluídos dos programas por possuírem visões tradicionais acerca da homossexualidade;
⎯ Sejamos claros: homossexuais compartilham os mesmos direitos constitucionais de todos os outros americanos (e, não, casamento NÃO é um direito constitucional), então por que nós precisamos de leis especiais para eles? É pelo motivo de que tais leis especiais não asseguram direitos que eles já possuem, ao invés disso, são usadas para promover a agenda deles. Essa é a estratégia deles, que eles admitem abertamente em seus manuais estratégicos;
Quando se trata das hipócritas leis do “bullying”, por exemplo, entenda que ofensas e ataques já são ilegais. Homossexuais não estão isentos dentro das leis existentes que protegem a todos. O que essas ditas leis do “bullying” realmente fazem é criar uma quantidade de novos programas em escolas públicas para fazer propaganda das virtudes do comportamento homossexual aos estudantes.
É simplesmente bizarro que nossas escolas gastem milhões em programas antidrogas, mas agora estão dispostas a promover programas que encorajam o estilo de vida homossexual. Isso apesar de pilhas de evidências de que tais comportamentos levam a uma expectativa de vida mais curta e de que aqueles que se envolvem neles de maneira desproporcional sofrem com uma série de escolhas negativas de estilo de vida. Isso foi confirmado por grandes estudos de longo prazo realizados com homossexuais, tanto pela Agência Canadense de Saúde quanto pelo Centro para Controle de Doenças (Center for Disease Control, CDC), mas os resultados desses estudos foram ignorados pela Fox News e por outros conservadores na mídia.
Quem declara ser um defensor da constituição – como fazem muitos conservadores –, mas ignora os massivos ataques contra nossos direitos constitucionais, simplesmente não é um defensor da constituição. A equipe da Fox News parece ter adotado argumentos libertários em muitas dessas questões, mas até os libertários se opõem aos efeitos tirânicos que essas leis têm em nossa cultura.
Pegue o exemplo do casamento entre pessoas do mesmo sexo. A aceitação de leis do casamento entre pessoas do mesmo sexo liberou o poder do governo de maneiras diversas e chocantes. Pessoas estão recebendo ameaças de morte, sendo perseguidas e até perdendo empregos por falarem abertamente contra a questão. A legalização do casamento homossexual também significa que o estado reconhece o comportamento homossexual como normal. Como resultado, agências de adoção privadas estão sendo forçadas a encaminhar crianças a famílias homossexuais. O mesmo para crianças adotadas e agências de group homes. Escolas, agora, têm de ensinar que o comportamento homossexual é normal, levando centenas de estudantes ao caminho de um estilo de vida insalubre e perigoso. E, é claro, se a homossexualidade é um comportamento normal, então tudo justifica as leis de “crime de ódio”, “bullying” e as chamadas leis “antidiscriminação” que estão sendo assinadas por toda a América, que levam a um amplo ataque contra nossas liberdades constitucionais.
O problema, claro, é que a homossexualidade não é normal. Décadas de pesquisa mostram o oposto. E o anteriormente mencionado CDC e os estudos canadenses de longo prazo com milhares de homossexuais mostram, claramente, firmes diferenças entre homossexuais e heterossexuais em todas as categorias de estilo de vida: suicídios, abuso de drogas, atividade criminal, direção sob o efeito de drogas e álcool, prostituição, crises psicológicas, etc. Claramente, esses são sinais de um estilo de vida anormal e insalubre.
Ah!, sim, eu sei que a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, APA) proclamou a homossexualidade como sendo normal, mas essa conclusão não é o resultado de um cuidadoso estudo de longo prazo dos estilos de vida homossexuais. É o resultado da tomada de um comitê, pelo qual se decidiu qual comportamento é “normal” ou não, por parte de um grupo discreto de psiquiatras homossexuais, em 1973. O comportamento homossexual foi removido do rol de comportamentos anormais por uma votação direta, através da qual os psiquiatras homossexuais prevaleceram. Não houve um debate científico ou nada parecido com isso. Não seja bobo. Foi puramente político. Mas tenha em mente que, ao mesmo tempo, a vasta maioria dos membros da APA crê na anormalidade da homossexualidade.
Ainda assim, nossos heróis conservadores da mídia ainda agem como se houvesse algum consenso científico de que a homossexualidade é um comportamento normal, advindo da genética, logo, eles aparentemente acreditam que essas batalhas pelos “direitos gays” envolvem pessoas normais que estão simplesmente tentando proteger os seus direitos dados por Deus.
Até hoje, eu nunca testemunhei qualquer personalidade ou empresa de mídia conservadora que verdadeiramente se aprofundasse na fraude da APA, no grande estudo sobre o estilo de vida homossexual do CDC/Canadense ou mesmo que fizesse uma matéria a respeito da ampla rede de ex-homossexuais na América, que prova, claramente, que a homossexualidade é um comportamento modificável. Como um resultado, parcialmente, da recusa da grande mídia ⎯ e posteriormente da mídia conservadora ⎯ em cobrir tais notícias nas últimas quatro décadas, agora nós nos encontramos na extremidade perdedora das batalhas dos “direitos gays” em todos os fronts.
Ainda mais surpreendente é o estudo da Pew Research, sobre como a mídia cobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ele mostra que a Fox News divulgou quatro vezes mais notícias favoráveis ao casamento entre pessoas do mesmo sexo do que contrárias. Nem a maioria das pessoas sabe que a Fox News é uma grande patrocinadora da Associação Nacional de Jornalistas Gays e Lésbicas [na sigla em inglês: NLGLA ⎯ National Lesbian and Gay Journalists Association], sendo que esta mesma organização monitora como a Fox News cobre tópicos gays e está constantemente se comunicando com personalidades da Fox News para ensiná-las a maneira “correta” de reportar sobre tópicos homossexuais. E não: a Fox News, cujo slogan é “Justa e Balanceada”, não doa dinheiro a grupos pró-valores tradicionais.
Megyn Kelly é uma superestrela da Fox News, mas, mais do que as personalidades da emissora, ela realmente bebe o kissuco [no original, Kool-Aid; supus que kissuco era uma opção melhor do que tang] da propaganda homossexual. Ela apoia o casamento homossexual e, muitas vezes, equaciona, no ar, os direitos dos negros aos direitos dos homossexuais, apesar da completa falta de evidência de que a homossexualidade é um traço de nascença, como a raça. Ela também usa as mesmas frases que ativistas homossexuais usam ao descrever a batalha pelos direitos de casamento ⎯ “igualdade de casamento” ⎯, e se referiu aos opositores religiosos à agenda homossexual como “haters” [odientos], frases saídas diretamente do manual da NLGJA.
Fato desconhecido para a maior parte das pessoas, Kelly é profundamente envolvida no movimento homossexual. Ela apareceu em um número de eventos da NLGJA e, creio eu, é influenciada por um certo número de amigos homossexuais. Isso explica o motivo de quase sempre tomar o lado dos homossexuais, e quase nunca se aprofundar nos ataques do movimento homossexual aos nossos direitos constitucionais.
Outra superestrela da Fox News ⎯ Bill O’Reilly ⎯ é igualmente mal informado sobre esses assuntos. Inacreditavelmente, O’Reilly se mostrou favorável às chamadas leis “antidiscriminação”, que levaram a muitos dos ataques descritos anteriormente neste artigo. Ele apoia a adoção homossexual, e se referiu aos cristãos que são contrários à agenda homossexual como “carolas” e “fanáticos”.
Bill O’Reilly também não tem problema algum com o casamento homossexual ou com Obama, quando ele unilateralmente, sem legislação do Congresso, emitiu uma medida administrativa que permite pessoas publicamente homossexuais no Exército. Para um homem que se descreve como “tradicionalista” e um “guerreiro cultural”, é difícil levá-lo a sério, já que ele hasteou a bandeira branca em alguns dos maiores assuntos culturais do dia.
Então, temos Shephard Smith, que foi “saído-do-armário” pela comunidade homossexual como um deles. Não é uma surpresa. Smith fez declarações favoráveis sobre o casamento homossexual e se referiu àqueles que foram aos bandos ao Chick-Fil-A (rede de restaurantes americana que foi alvo do movimento gay por patrocinar causas tradicionais) para apoiarem a sua posição tradicional sobre casamento como sendo parte do “Dia Nacional da Intolerância”.
O especialista convidado da Fox News Bernie Goldberg também é pró-homossexual e chama conservadores que se opõem a sua agenda de “intolerantes”. Em seu blog, Goldberg até afirma que Jesus Cristo iria apoiar o casamento homossexual, uma afirmação esquisita, dadas as numerosas afirmações de Jesus e seus discípulos acerca da posição sagrada que Deus designou à família tradicional, homem-mulher. Goldberg também faz afirmações bizarras em seu site dizendo que Jesus disse que algumas pessoas nascem gays, o que obviamente é falso. Na verdade, tanto o Velho quanto o Novo Testamento são muito claros na condenação do comportamento homossexual.
Até mesmo os membros da “seleção” da Fox News, Charles Krauthammer, Stephen Hayes e George Will dão apoio à permissão de que pessoas publicamente homossexuais participem do Exército, parecem ser ignorantes sobre o grande corpo de pesquisa que documenta quanta desordem pode ser criada com o serviço de homens e mulheres abertamente homossexuais ao lado de outros em unidades pequenas, onde a coesão moral e de unidade pode significar a diferença entre vida ou morte. Pesquisas de opinião realizadas entre membros em serviço comprovam isso, mas a Fox News constantemente minimiza ou ignora a opinião daqueles que serão os mais afetados por essa política radical.
De fato, quando eu representava San Diego na legislatura estadual, eu tive acesso aos estudos realizados pelo Exército que demonstram a generalização da má-conduta por membros homossexuais em serviço (e isso antes de homossexuais serem permitidos em serviço!). Eles se envolviam mais em crime, estupro e comportamento incômodo do que os membros heterossexuais em serviço. Esse tipo de estudo interno estava varrido para debaixo da mesa quando ocorreram os debates sobre o assunto no Congresso.
O Exército NÃO é um empregador de oportunidades iguais ou um programa de empregos. É uma força de batalha que deve rejeitar qualquer política pública que solape a unidade daqueles que servem. Já chamou a minha atenção o fato de que homossexuais em serviço ⎯ agora se sentindo totalmente protegidos pela Casa Branca ⎯ incorrem em comportamento abertamente homossexual na frente de seus colegas. Como resultado, a coesão da unidade está desabando a olhos vistos, a moral está em frangalhos e o nosso Exército está ficando mais fraco. Infelizmente, nossa mídia, até mesmo nossa mídia conservadora, escolheu não investigar o assunto. Afinal, eles todos eram favoráveis a essa política e agora estão relutantes em mostrar como ela tem sido falha. Obrigado por destruírem nosso Exército.
Eu poderia ir adiante, e adiante, com a Fox News. Chris Wallace crê que aqueles que se opõem aos líderes gays dos Escoteiros deveriam ser comparados a racistas… Dana Perino, Kimberly Guilfoyle, Greg Gutfeld e Eric Bolling: todos eles apoiam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, gays no Exército, e uma boa parte da agenda gay… Ex-repórter da Fox News, Margaret Hoover apoia muito da agenda de direitos gays e faz parte do conselho de duas entidades homossexuais… John Stossel se recusa a aceitar que a homossexualidade é um comportamento cambiável e se opõe aos esforços de aconselhamento psicológico a homossexuais, uma visão estranha para um libertarian amante da liberdade… Elizabeth Hasselbeck chamou a oposição do Papa ao casamento gay de “desumana”. (Pelo amor de Deus, Elizabeth, leia a Bíblia)… Sally Kohn é uma ativista lésbica que apoia de maneira velada os “direitos gays” em suas colunas no site da Fox News… E adiante, e adiante…
Na verdade, é difícil encontrar qualquer “guerreiro cultural” na Fox News que seja realmente um guerreiro cultural, que entenda as ameaças dispostas contra nossas liberdades pela agenda homossexual. Claramente, essas pessoas estão cercadas por pessoas socialmente liberais e simplesmente declamam a linha esquerdista nesses assuntos. A Fox News pode ser uma campeã em tópicos econômicos e de política externa, mas é hora de admitir que eles são ignorantes ⎯ e até perigosos ⎯ quando se trata dos principais assuntos sociais de nosso tempo.
E a personalidade mais conservadora da Fox News ⎯ Sean Hannity ⎯ aparentemente decidiu evitar esses assuntos, quase nunca os mencionando ou fazendo desses tópicos objeto de qualquer um de seus programas de rádio ou TV. Para uma pessoa que se descreve como Católico conservador, isso é muito desencorajador. Enquanto isso, escolas católicas, agências de adoção e instituições de caridade estão sendo brutalizadas pelo movimento dos “direitos gays”. E nem um pio é dado por Sean.
Alguém tem de se perguntar se o time da Fox News realmente não entende como os “direitos gays” não apenas minam a cultura cristã da América, mas também constituem um ataque direto aos mais importantes direitos dados a nós pelos nossos pais fundadores – tais como liberdade de expressão, religião, imprensa e associação.
Entretanto, isso não é muito diferente com outros conservadores na mídia fora da Fox News. Glenn Beck disse no programa de O’Reilly que o casamento homossexual não é uma “ameaça ao país”, uma declaração bizarra vinda de um alegado conservador em temas sociais. Beck também citou Thomas Jefferson para apoiar a sua posição neutra no casamento entre pessoas do mesmo sexo: “Se nem quebra a minha perna nem bate a minha carteira, qual é a diferença para mim?”
Mas Jefferson não apoiaria o casamento gay ou as táticas de estado policial que o casamento homossexual trouxe à nossa cultura. Apesar de se apresentar como um defensor da Constituição, Beck parece conhecer pouco sobre como os nossos pais fundadores estimavam a unidade familiar tradicional como chave da liberdade e da prosperidade da América. A destruição da unidade da família tradicional significa a destruição de nossa cultura e, em última instância, de nosso país. Será que Beck realmente não entende isso? Será que ele realmente não está ciente das ondas de ataques às nossas liberdades, conforme eu descrevi acima?
Ficou bastante claro, agora, que a agenda homossexual mina as nossas liberdades, nossas famílias e a nossa fé. Está transtornando nossa cultura cristã e agredindo nossos direitos constitucionais em todos os fronts concebíveis. Se você acha que isso não é exatamente o que os homossexuais planejaram conjuntamente, então você não deve ter lido os seus livros e manifestos. Hoje, existe literalmente uma centena de processos em curso em tribunais por toda a América, sendo que a maioria deles é levada adiante por um reduzido número de pequenas ONGs com dificuldades financeiras, tentando, de maneira desesperada, preservar nossas liberdades constitucionais.
Todos esses grupos legais tentam preservar nossos direitos ante esse assalto, e seria bom se nossas personalidades conservadoras na mídia começassem a cobrir essas histórias de uma maneira séria, ao invés de usar frases libertárias prontas para desacreditá-las. Eles também precisam parar com a frívola cobertura do tipo “eu também” sobre essa ou aquela estrela de Hollywood “saindo do armário” e começar a investigar os verdadeiros problemas aqui. É hora de a mídia conservadora acordar, ignorar os talking points providos pela NLGJA e começar a reportar sobre como a agenda dos direitos homossexuais está comprometendo nossos direitos constitucionais.
Nota: Eu gostaria de agradecer a Cliff Kincaid e Peter LaBarbera por desenterrarem muitas das pesquisas que tratam do envolvimento da mídia conservadora com a agenda gay. Muitas dessas informações foram obtidas da pesquisa publicada por eles em American’s Survival (www.usasurvival.org), intitulada “Injusta, desbalanceada e com medo: a crescente tendência pró-homossexual na Fox News e a Associação Nacional de Jornalistas Gays e Lésbicas”.
Stephen Baldwin é fellow do IAI [Inter-American Institute] em Liderança Política Prática. Ele é ex-representante na Assembleia do Estado da Califórnia e ex-diretor executivo do Conselho pela Política Nacional e dos Jovens Americanos pela Liberdade. Já publicou em numerosos veículos e é autor de From Crayons to Condoms, The Ugly Truth About America’s Public Schools.
Artigo original: “Why Are Media Conservatives Buying The Homosexual Propaganda?“, publicado no site do Inter-American Institute e traduzido por Gabriel Marini sob encomenda e revisão de Felipe Moura Brasil, colunista da VEJA.
Felipe Moura Brasil – http://www.veja.com/felipemourabrasil

terça-feira, 3 de junho de 2014

A Loucura da Cruz, os Direitos Humanos e a Liberdade de Expressão

A Loucura da Cruz, os Direitos Humanos e a Liberdade de Expressão

Por Tiago Santos 

1 - A Sedução do relativismo: 
Vivemos em tempos em que as pessoas não gostam de ser importunadas ou confrontadas com certas questões. Alguns temas que tocam nossa vida diária, não podem mais ser abordados sem que se corra o risco de ofender uma consciência aqui e ali; afinal, alguns argumentam, esses assuntos incômodos encontram-se em um campo de conceitos subjetivos, submetidos ao crivo do particular. Ou seja, o que é para mim poderá não sê-lo para você. Aliás, essa é a principal característica de nossos tempos: relativismo. Tudo é relativo.

Nas últimas décadas, essa mentalidade tem alcançado a igreja. Hoje em dia, um outro evangelho tem sido anunciado. Um evangelho “light”, que não custa nada. Um evangelho tolerante, amigável, inclusivo e fácil. Assim, os púlpitos estão sendo esvaziados e não sobra espaço para se abordar temas considerados controversos e ultrapassados. O evangelho de hoje removeu o escândalo da cruz; não tem justiça, arrependimento, sacrifício, entrega, auto-negação, as virtudes da lei, graça... O resultado dessa tendência é o sério comprometimento doutrinário. Várias doutrinas fundamentais, como as que mencionei, passam a ser questionadas ou reconstruídas com base em filosofias e pressupostos estranhos às Escrituras e à ortodoxia cristã.

Por outro lado, a agenda evangélica tem sido cada vez mais ocupada por assuntos do momento – via de regra, de cunho ecológico, social, filosófico, enfim. Os proponentes desta nova agenda evangélica, articulistas, escritores, apóstolos e pastores, televangelistas, ao abandonarem a Escritura para lidar com as questões da vida e do momento, precisam cooptar com ideologias estranhas ao cristianismo, via de regra com viés político esquerdista e com as novas hermenêuticas que as filosofias pós-modernas têm proposto, oferecendo suas fórmulas como panacéia dos males mais profundos de que padece a humanidade – ignorando que a Queda e seus efeitos é que de fato causam a mais abissal miséria do homem e que a única restauração se dá pelo genuíno evangelho do Senhor Jesus Cristo.

Mas, uma das características mais marcantes dos proponentes desta nova agenda entre o povo evangélico, é a força de sua propaganda e a virulência de sua beligerância – intolerantes em nome da tolerância, não aceitam o contraditório e rejeitam o debate na arena bíblica. A defesa da fé é reputada como conduta reacionária e fundamentalista, ao arrepio das Escrituras e de cartas bíblicas como a de Judas.

O politicamente correto em que vivemos, parece ser incompatível com a velha idéia de buscar a orientação da Escritura para “ver se as coisas são mesmo assim”.

Isso tudo se constitui num grande desafio para o cristão sincero hoje. Precisamos reaprender a pensar biblicamente e a submeter as questões mais complexas da vida ao crivo das Escrituras – no melhor espírito da nobreza bereana.

2 - A loucura da mensagem cristã: 
Mas nos enganamos se achamos que esse é um problema atual. Quando pensamos no evangelho da cruz, somos logo lembrados da controvérsia que envolveu a pregação do apóstolo Paulo em Corinto. 
Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.
Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.

Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.
(1 Coríntios 1.18-31)

Paulo está falando aqui não do ato de pregar, mas do conteúdo da pregação. O verso 18 fala da “palavra da cruz” como sendo loucura.

O conteúdo do evangelho era escandaloso então e ainda o é hoje.

A “palavra da cruz” era escandalosa aos judeus e gentios porque naquela sociedade não fazia sentido a morte estúpida e violenta de um herói. A imagem de Cristo crucificado – a pregação de Paulo – era incompatível com a idéia judaica de um Messias que estabeleceria um reino político, visível, poderoso e glorioso. Mas a idéia de um Messias na cruz era quase blasfema para um judeu.

Para o gentio era loucura um herói morto como um bandido na cruz. Para o gentio, a mensagem da cruz era algo tolo, um contra-senso.

D. A. Carson, ao analisar essa passagem, demonstra que o ponto do apóstolo Paulo é que nenhuma filosofia ou cosmovisão – seja da antiguidade ou de nossos dias – terá algum valor se seu cerne não for a cruz de Cristo – escândalo para os judeus, loucura para os gentios. Mas, nem toda sabedoria humana era insuficiente para salvar o homem do pecado – assim como hoje nada, absolutamente nada, a não ser a mensagem de Cristo – e este crucificado – pode alcançar o coração do homem. Sem a cruz, haverá ou idolatria, ou legalismo. É a loucura da pregação da mensagem da cruz que tem o poder de redimir.

E Paulo é muito assertivo ao definir a mensagem da Cruz como o poder de Deus [dinamis]. A mesma palavra que ele usa em Romanos 1.16. Poder aqui tem um sentido muito intenso – é o mesmo tipo de poder que Deus usou para criar o universo [Hb. 1-3]. A idéia aqui é demonstrar a nossa incapacidade de nos salvarmos e a necessidade da ação do próprio Deus em nossa redenção.

O verdadeiro evangelho implica a necessidade da regeneração, do novo nascimento – como Jesus ensina em João 3. Envolve o arrependimento, a auto-negação, o abandono deliberado e resoluto de nossos vícios e pecados, a fé e a obediência, a novidade de vida – luta diária contra a carne, o mundo e o diabo – o despir-se do velho homem e o revestir-se do novo homem, a adoração verdadeira, o fim da idolatria – da auto-idolatria, movido pelo orgulho e pelo ego inflamado e ensimesmado, a santidade – separação dos valores deste mundo, da mentalidade do mundo, e o dirigir de nossos afetos, de nossa mente e coração para Deus. 

E não tem outro jeito. O Espírito só opera pela loucura da pregação (Rm. 10.17). Se você não experimentou essas coisas, não há boas novas para você. As boas novas só são boas quando nos levam à cruz de Cristo, que é onde encontramos o perdão de nossos pecados, somos redimidos, resgatados, propiciados, declarados justos, adotados e santificados.

Quero propor então, para todos nós, o retorno ao evangelho da cruz. Fazer isso, todavia, envolverá lutas e disposição ao sacrifício – dentro da própria igreja, cuja mentalidade está muito afetada pelos valores do presente século e em nossa sociedade, que vive uma fase pós cristã – em que rejeita e opõe-se, deliberadamente, a tudo que a fé cristã ensina e conquistou ao longo dos séculos.

3 - A relação entre a fé individual e o estado: 
Neste ponto, desejo propor como podemos expressar nossa fé – nossa pregação que é louca e ofensiva – neste mundo pluralista e relativista em que vivemos.

No Brasil, vivemos em uma sociedade organizada, democrática.

A relação entre a fé e o estado tem sido sempre uma questão conturbada. Difícil.

Expressar nossa fé ofensiva nos dias de hoje, no Brasil, é algo que tem causado incômodo a vários setores da sociedade. Via de regra aqueles de caráter libertário e libertino – que não podem aceitar o elevado padrão moral imposto pela fé cristã. Não raro, temos visto casos de pastores e mesmo crentes serem censurados por sua fé – quando afirma, por exemplo, que a prática e comportamento homossexual é pecado e que deve ser abandonado, ou quando afirmam que o aborto é homicídio, aos olhos de Deus [e mesmo aos olhos de uma sociedade sensata], quando dizem que, segundo as Escrituras, Deus criou homem e mulher essencialmente iguais, em dignidade e valor, mas diferentes quanto aos seus propósitos e função na economia familar. Até mesmo questões envolvendo o comportamento sexual tem sido alvo de perseguições – quando a pornografia, o adultério, a promiscuidade, a indecência, etc são nomeadas como ofensas, pecados grosseiros, e anomalias – atos que comprometem e colocam em xeque a primeira instituição fundada por Deus, a família  – há então perseguição, linchamento moral, intimidação e, vejam só, ultimamente até mesmo processos na justiça.

Isso tem acontecido diante de nossos olhos e temos feito pouco para combater esse comportamento vil e ilegal.

O cristão, às vezes, tem a tendência de se deixar martirizar – como se o martírio fosse enaltecer a causa do evangelho. Bem, ainda que sejamos “bem aventurados” quando somos injuriados pelo nome de Cristo [Mt. 5.11,12], somos também “bem aventurados” quando temos “fome e sede de justiça” Precisamos entender a “fome e sede de justiça” como sendo aquela que tem a ver com retidão e equidade, a justiça que veremos no mundo vindouro e idealizamos hoje, no mundo onde peregrinamos. A justiça que o estado tem o dever de promover, para o convívio pacífico da sociedade (Rm. 13). 

É bom lembrar que o conceito de justiça enquanto eqüidade nas relações entre os homens – mediada pelo estado – é algo muito presente nas Escrituras, não só nas narrativas, mas como um princípio teológico. Vemos esse conceito em Romanos 13 e também o vemos na conduta de Paulo, quando usa sua cidadania romana como um instrumento de direito e reclama reparação moral e pública pelo julgamento, sentença e pena injustas que recebeu em Filipos [Atos 16.19-40], ainda quando questiona a pena que queriam infligir-lhe [de açoites] sem um julgamento justo em Jerusalém [Atos 22.25-30] e ainda sua defesa diante do governador [e juiz] Felix [Atos 24.10-21] também diante de Festo e Agripa e, mais adiante, usando a estrutura jurídica de sua época e o direito que lhe cabia, apelou ao imperador, a César [Atos 25].

Vemos no exemplo e mesmo nos princípios das Escrituras o dever de andarmos com retidão em nossa sociedade, sendo luz e exemplos de nosso proceder diante do ímpio e usando a espada e o poder do estado para promover a justiça e a eqüidade.

Como cristãos, temos o dever de afirmar a nossa fé com liberdade e a usarmos – como fez o apóstolo Paulo – o direito divino (contemplado e assimilado pelas leis) para defender nossa fé, nossa dignidade, nossa liberdade, nossa consciência e o direito que temos de proclamar e expressar o que cremos.

4 - O direito no Brasil e a expressão de nossa fé: 
Assim sendo, em que pese as tensões existentes nesta difícil relação, é bom termos ciência de que legislação brasileira recepciona em sua carta magna, a constituição, e mesmo na legislação infraconstitucional os preceitos fundamentais do direito do homem, do ser humano, presentes na declaração universal dos direitos humanos.

O preâmbulo da declaração dos direitos humanos da ONU, elaborada em sua fundação em 1948, preceitua que: 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão...”
E, em seus artigos XVIII e XIX, estabelece o seguinte:
Artigo XVIII.
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.
Artigo XIX.
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
No Brasil, todas as constituições, desde da República de Rui Barbosa, Deodoro da Fonseca e Joaquim Nabuco, em 1891, há a proteção da consciência religiosa. Mesmo a as constituições dos regimes de exceção, em 1937 e em 1964, ainda que as liberdades de imprensa e de expressão tenham sido cerceadas, a liberdade de consciência religiosa foi preservada. A atual constituição, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, fazendo coro com a declaração dos direitos humanos, em sua seção Dos Direitos e Garantias Fundamentais [e é importante termos essas definições em mente, diz o seguinte no caput de seu artigo 5º: 
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
A Lei constitucional é a primeira e principal lei da nação. Todas as demais leis estão sob seu espectro e autoridade. A inviolabilidade da consciência implica o direito de expressar com liberdade o que cremos. O inciso VIII estabelece que nossas crenças não podem servir de subterfúgio para que sejamos privados de qualquer direito – principalmente o direito de expressá-la – além ainda do artigo VIII que estabelece a liberdade de expressão.

Na constituição, vemos ainda o seguinte: 
No código penal brasileiro, por sua vez, no artigo 140, o tipo penal criminaliza a injúria contra o credo religioso: 
Art. 140: Injúria
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem:
E o artigo 208 foi elaborado especificamente para tratar sobre a liberdade de cultuar: 
208: Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objetos de culto religioso:
Pena: Detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.
Parágrafo único: se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência
Se a lei protege a consciência religiosa, chamando-a de ‘inviolável’ e fundamental, é uma inferência lógica – apoiada pela doutrina jurídica – que a expressão desta fé é igualmente inviolável e fundamental. 
A constituição ainda aplica o princípio audiatur et altera pars,  que quer dizer “ouça-se também a outra parte”, também conhecido como princípio da ampla da defesa e do contraditório. Isso significa que temos ao nosso dispor todos os meios legais de defesa disponível, no caso de algum desses direitos básicos serem violados – mesmo que pelo próprio estado.

5 - Conclusão: 
A fé cristã é ofensiva – sempre foi e sempre será. Sempre haverá uma tensão entre afirmá-la, praticá-la e, ao mesmo tempo, viver no meio de uma sociedade que a rejeita e a odeia.

Temos o dever de dar o testemunho da verdade neste mundo de trevas. Isto envolve dizermos e fazermos aquilo que a Escritura sagrada ensina – no campo ético, moral, relacional – amando ao próximo, respeitando a vida, vivendo com integridade, retidão, honestidade – estabelecendo famílias fortes e igrejas centradas em Deus e na Palavra. Isso será o contraponto da irracionalidade e insensatez que envolvem este mundo tenebroso.

Temos de confrontar esta anarquia de pensamentos e tendências que caracterizam nosso século com o ensino da Palavra e uma conduta que seja condizente com este ensino.

O estado, por sua vez, tem a obrigação e dever de estender a espada da justiça e equidade aos cristãos – e fazemos bem em utilizar essa espada. Não temos de nos refugiar nas cavernas e catacumbas. Temos de afirmar com fé, coragem e ousadia nossa convicção cristã e impor ao estado, pelos meios legítimos, que use a espada não para perseguir cristãos por conta de sua consciência, mas para promover a paz e a equidade. O direito de consciência religiosa é um direito sagrado, dado por Deus. O estado que o rejeita está contrariando sua vocação – e deve ser, nesse caso, confrontado.

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