domingo, 27 de janeiro de 2013

Viva os críticos!


 Vinicius Seabra
“Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam. Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens...”.
Mateus 23:3-5 (NVI) 
A sociedade, e principalmente os movimentos religiosos, pelo menos na grande maioria, historicamente se mostraram claramente contrários aos idealistas críticos, tendo como principal argumentação a dissociação do discurso com a prática apresentada pelos “críticos”. Contudo, há um erro histórico nesta alienação, pois se confunde e se iguala a crítica aooposicionismo – termos essencialmente diferentes. Seria então ponderado distinguir os dois termos. Sendo assim, se pode nortear que a ação de criticar implica em transformar uma realidade que notoriamente esta errada, ou seja, criticar não é apenas argumentar, mas demonstrar na prática que é possível fazer diferente. De contra partida, o oposicionismo se norteia pelo belo discurso com palavras engenhosamente projetadas que visa contradizer um determinado pressuposto errôneo, porém não tem capacidade de transformar o discurso em prática, é apenas uma oposição.
A confusão dos dois termos se torna complexa para o entendimento, pois toda crítica invariavelmente será uma oposição. Contudo, a recíproca não é verdadeira, isto é, nem toda oposição é uma crítica. Portanto, o desafio é se munir de critérios bem definidos para que assim consiga distinguir uma crítica de uma mera oposição. Basicamente o que os distingue é que uma afeta as práticas – crítica, o outro se limita aos discursos – oposicionismo. Toda idéia, por mais correta e plausível que seja se não conseguir romper as barreiras filosóficas do discurso se torna automaticamente e axiomaticamente um oposicionismo, que, então, deve ser fortemente criticado. O fato de se contentar em apenas se opor a um pressuposto errado não torna o orador mais nobre que a falta observada, pois o que valida um discurso como relevante é a capacidade do mesmo de promover mudanças práticas, a começar pelo discursador.
De um modo geral as pessoas confundem falar mal de, com o ato de criticar – isto é oposicionismo. Deve ser por esta razão que alguém, não sei quando, provavelmente perdido na confusão dos termos, resolveu inventar uma designação dualística diferenciando a crítica como: crítica construtiva e crítica desconstrutiva. Não há duas maneiras de se criticar, a crítica quando de fato o é, sempre é construtiva, mesmo que provoque desconstrução. O que caracteriza uma crítica não é o estrago desta, mas sim a hombridade dos que a volta se comprometem a entender as causas, propor novos caminhos e a maestria de tornar a comunicação igualitária/solidária. O que costumeiramente se chama de crítica desconstrutiva é na verdade falácias de indivíduos orgulhosos que precisam humilhar outros para se destacar, estes são seres desprezíveis que se autojulgam superiores a partir da insegurança de suas próprias invejas, são pessoas que fazem de tudo para ter o aplauso das massas acreditando infantilmente nas instáveis ovações.
Perceba então, que o que chamamos de críticos literários, críticos de cinema, críticos gastronômicos e tantos outros na verdade são, na sua grande maioria – obviamente há exceções, apenas indivíduos oposicionistas. Analise a crítica que o personagem Anton Ego faz de si mesmo na animação Ratatouille (Pixar, 2007): “de certa forma, o trabalho de um crítico é fácil. Nos arriscamos pouco, e temos prazer em avaliar com superioridade os que nos submetem seu trabalho e reputação. Ganhamos fama com críticas negativas, que são divertidas de escrever e ler, mas a dura realidade que, nós críticos, devemos encarar, é que no quadro geral, a mais simples porcaria, talvez seja mais significativa do que a nossa crítica. Mas, há vezes em que um crítico arrisca, de fato, alguma coisa, como quando descobre e defende uma novidade. O mundo costuma ser hostil aos novos talentos, às novas criações. O novo precisa ser incentivado...”. O que fica notório nesta citação é o vislumbre de um oposicionista por profissão que começa a entender que criticar é requer mais comprometimento, ousadia e sinceridade – virtudes estratosfericamente distante dos ser oposicionista.
O oposicionismo é mais prejudicial que a ausência de discursos. O oposicionismo é usado por aqueles que não querem mudar, mas apenas falar; não querem crescer, mas apenas confundir; não querem amadurecer, mas apenas estagnar; não querem ajudar, mas apenas atrapalhar. Por conseguinte, os oposicionistas são longos, porém rasos. Estes levantam os punhos em sinal de indignação, mas quando tem a oportunidade de provar ser possível fazer diferente simplesmente se omitem. O oposicionismo é um espetáculo de banalização da razão, pois não há nada mais vexatório que um discurso desassociado da prática. Como afirma Ferdinand Bac: “A oposição é um estado de privilégio. A partir dele pode bombardear-se o poder sem se saber nada, sem fazer nada e sem arriscar nada. Quando o incêndio deflagra, podemos instalar-nos nas bancadas da frente”.
O ato de criticar é uma atitude do pensar práxis. Quando se critica algo, isto implica em refletir, discursar e trabalhar para melhorar determinada situação. A crítica resulta de uma percepção do correto em contraposição ao errado, mas não se contenta em apontar, se dispõem a transformar. Criticar é apontar uma falha e ajudar a fazer o reparo; é perceber um abismo e construir uma ponte; é discursar sobre um caminho errôneo e conduzir outros por veredas retas. Num âmbito eclesiástico saudável a crítica é parte essencial do ser cristão, pois é por meio da crítica que se muda o status quo dosmonarcas igrejeiros e assim torna a mensagem da cruz acessível para o maior número de pessoas. São estes cristãos críticos que não aceitam ver a igreja se ajoelhar perante a secularização, que não toleram a banalização do evangelho e nem admitem os líderes roubarem a glória de Deus. Estes críticos fazem coro com Paulo quando afirma: “Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, (...) permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica” - Filipenses 1:27 (NVI).
Por tudo que foi exposto anteriormente fica notório que criticar não é fazer oposicionismo. Contudo, várias igrejas aproveitando da confusão em torno dos termos usam os púlpitos para apregoar um discurso maléfico a cristandade. Discurso este que afirma que o conceito de obediência é contrário, e completamente paradoxal, com a ação de criticar – o que obviamente não o é, pois obediência sem razão/pensar é apenas medo. Alguns líderes eclesiásticos se opõem aos críticos porque não querem perder a redoma confortável de falsas crenças que corrobora na dominical manipulação das massas evangelicais – quanto mais se depende do líder menos espaço para os da comunidade. Com estes terríveis pressupostos vários movimentos cristãos têm vivido como zumbis da fé, completamente irracionais no culto a Deus e plenamente ignorantes na vida cristã. Estes fiéis acríticos não percebem as heresias, as bizarrices, os abusos, a ganância dos lideres e as distorções bíblicas que descaradamente ocupam a mídia evangélica brasileira, pois foram ensinados (leia-se adestrados) que é “demoníaco” ser crítico/pensar – daí se opõem.
O autor John Stott escreve a história de um membro da igreja do Dr. Rufus M. Jones que demonstra o quanto os cristãos estão bitolados a viver um cristianismo sem críticas/pensar, o membro se queixa dizendo: “quando vou à igreja sinto-me como se tivesse desenrolando a minha cabeça e colocando por sob o assento, pois numa reunião religiosa não tenho necessidade alguma de usar o que se acha acima do meu colarinho” (retirado do livro Crer é Também Pensar, ABU, 1994, p. 19). A partir do momento que os cristãos entenderem que criticar não é fazer oposicionismo, e assim transformarem o discurso em prática, o mundo contemplará uma igreja viva, eficaz e coerente. Portanto, igreja é lugar de gente crítica. Logo, viva os críticos!
Só uma observação final: critique sempre, critique inclusive e principalmente suas críticas....
Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Posted: 25 Jan 2013 | seabravinicius.blogspot.com.br | Vinicius Seabra




Artigo escrito em: 12 de Outubro de 2009

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Como você vê o mundo ao seu redor?





Texto: Números 13.26 - 14.9

Título da mensagem: Como você vê o mundo ao seu redor?

Introdução: Início de ano é sempre um momento de expectativa para muita gente. É o momento em que as pessoas costumam marcar como o início de novos projetos, tomadas de decisões importantes e também coisas corriqueiras como iniciar um regime ou aprender alguma coisa nova.

Alguns de nós prometem ser mais zelosos na oração, na leitura bíblica, mas as mudanças que propomos para nós mesmos, muitas vezes, provocam mais frustração do que alegrias.

explicação do texto: O livro que nós chamamos de "Números", é chamado pelos judeus de "No deserto". É interessante este nome porque a gente sempre fala que deserto é lugar de passagem e é exatamente disso que se trata o livro de Números: a passagem do povo de Deus pelo deserto até chegar à Terra Prometida. Além, é claro de algumas ordenanças sobre o culto judaico e leis.

O capítulo 13 marca o ponto culminante de toda a viagem através do deserto. Mas Israel revela não estar ainda preparado para entrar na Terra Prometida.

Deus havia dado ordens a Moisés para enviar espias à Terra Prometida antes de toda a nação entrar nela. Já havia passado quase quarenta anos que o povo peregrinava pelo deserto e agora estavam diante da possibilidade de experimentarem o cumprimento da palavra do Senhor em suas vidas. Bastava entrar na terra e desfrutar de todas as bênçãos que havia nela.
Mas mudanças contém riscos, podem doer e dar trabalho.


Ilustração: O texto que nós lemos me faz lembrar uma história que eu ouvi há muito tempo sobre vendas de sapatos na Índia.
Havia uma fábrica de sapatos querendo expandir seu mercado para a Índia e enviou dois dos seus melhores vendedores para conhecer pesquisar mais sobre o país.
Os dois foram enviados para cidades diferentes e o primeiro entregou um relatório dizendo:
_ Esqueçam a ideia de vender sapatos na Índia. Aqui ninguém usa sapatos.
O segundo vendedor, sem saber do relatório do seu colega, enviou um e-mail para a fábrica dizendo:
_ Contratem mais empregados e ampliem a base da fábrica. Estamos diante do maior mercado de sapatos do mundo. Aqui ninguém usa sapatos ainda. Seremos os primeiros a vender sapatos na Índia.

Jesus, no Novo testamento, resume esta história da seguinte forma: Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será iluminado. Se forem maus, que grande trevas serão.

Argumentação

Tópico 1 - Aprenda a olhar para a vida de forma diferente. Domine a ansiedade e o medo.
Preciso confessar que sou uma pessoa de natureza muito ansiosa. O interessante é que sou um ansioso calmo. Quando recebo uma notícia sobre algo que acontecerá ou alguém que chegará de viagem ou até mesmo uma situação que está por se realizar; começo a imaginar como aquilo acontecerá, fico fazendo planos o tempo todo, e às vezes sonho acordado tentando alcançar ou antecipar o que virá naquele tempo.

Tenho que fazer um exercício diário para aprender a lidar com isto e deixar que esta característica seja utilizada a meu favor e não contra. O que tenho entendido é que o problema não é a ansiedade em si, mas a forma como a dominamos ou deixamos ela nos dominar.

Existem dois tipos de ansiosos: aqueles que confiam que Deus fará o melhor para suas vidas e descansam nesta esperança para executar as próximas etapas de planejamento e execução dos sonhos; e aqueles que nunca realizam nada por medo.


Tópico 2 - A diferença entre o nosso sonho pessoal e o sonho de Deus para nós.

Aqui eu quero chamar a atenção para algo muito perigoso que ocorre no meio evangélico atualmente que é a chamada confissão positiva. Esta forma de entender a fé acredita no poder da palavra falada como se fosse algo sobrenatural. Ou seja, o que você lança para o mundo espiritual como verbalização, como profecia, tem poder próprio para virar realidade.

Daí vem a banalização da profecia no nosso meio. Muitas pessoas profetizam coisas uns para os outros, mas estas palavras muitas vezes nada tem a ver com a vontade e a soberania de Deus.

A sutileza da confissão positiva é que ela parece bíblica, utiliza até versículos bíblicos para sua defesa, mas sua raiz é maligna. Ela coloca o poder na palavra falada e não em Deus.

Quem acredita no poder da palavra como mágica são os pagãos e esta crença está muito difundida no nosso meio sem percebermos os perigos dela.

Não estou dizendo que não existe profecia dada por Deus. Acredito que o Espírito de Deus dê revelações aos homens, mas Deus não está obrigado a cumprir tudo o que profetizamos por nossa própria vontade.
A palavra falada como profecia só tem poder quando Deus é quem a dá. Qualquer outra palavra dita, mesmo que seja utilizado o nome de Jesus, não terá efeito se Deus não a realizar.

Um outro perigo da confissão positiva é que ela tem um efeito colateral terrível e incute um medo neurótico nos crentes. Eu já vi gente que tem medo de falar nomes de doenças porque acreditam que podem atrair maldição para suas vidas.

Bem, existem os nossos sonhos e existem os sonhos de Deus para nós. Não estamos proibidos de pedir coisas em nossas orações, a bíblia até nos incentiva a pedirmos coisas que queremos. Mas devemos submeter nossas vontades à vontade de Deus.

Afinal Deus também tem sonhos e propósitos com cada um de nós. Se pedimos alguma coisa, é preciso deixar Deus responder: sim, não ou espere.


Tópico 3 - Creia nas promessas de Deus para você

Como saber que promessas são estas? Onde elas estão? Em primeiro lugar: na Bíblia. A Palavra é o centro da revelação da vontade de Deus para nossas vidas. Eu não digo o texto simplesmente, mas a vontade de Deus revelada em Jesus para nós.

No texto que lemos, enquanto a maioria líderes do povo olharam para o gigantesco problema que tinham pela frente e ficaram estagnados ali imaginando a grande enrascada que Deus e Moisés os haviam colocado, Josué e Calebe avançaram mais um pouco e visualizaram a revelação da promessa pela perspectiva de Deus. Eles sabiam que quem fez a promessa é fiel para cumprí-la. A revelação traz segurança.

Josué e Calebe não se detiveram no problema, mas sonharam com Deus vencendo os gigantes, entregando a terra nas mãos de seu povo. O próximo passo era atravessar o Rio Jordão e marchar até a terra prometida, o resto era com Deus.


Conclusão

Eu não sei quais sonhos você tem para este ano ou para um tempo além. Eu tenho muitos sonhos, mas tenho aprendido a não colocar minha vontade à frente da vontade de Deus.

Nem todos os nossos sonhos se realizarão. Isto é uma grande verdade que precisamos aprender a conviver com ela. Mas eu sei que nenhuma Palavra de Deus pra mim deixará de se cumprir.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cadê a humildade que estava aqui?


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Cadê a humildade que estava aqui?



“Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda 
compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e
 perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes
 perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz 
de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a
 viver em paz, como membros de um só corpo. 
E sejam agradecidos”.
Colossenses 3:12-15 (NVI) 

Discorrer sobre humildade é sempre uma aventura. O problema inicial reside na essência filosófica
 do ser humilde. Perceba que quem é humilde não ousa ensinar sobre humildade, pois isto
 é conceitualmente contraditório. Então, quem é humilde não se preocupa em ser reconhecido 
como tal e tem profunda rejeição de serem rotulados com esta tamanha grandeza. Estes fazem
 isto não para serem vistos ou percebidos pelos que rodeiam, o fazem por simplesmente
 serem humildes. Portanto, aprender/ensinar sobre humildade é um desafio de projeções 
gigantescas, pois só de adjetivar alguém de humilde já se perde a essência do ser humilde.
 A situação agrava quando você pessoalmente olha para si mesmo e se juga como humilde, 
pois isto denuncia que tal característica não faz parte deseus atributos. Antagonicamente, os 
que não buscam reconhecimento se o fazem intencionalmentejá se contradiz com a bendita 
busca da humildade, pois fazer algo para ser humilde é basicamente não ser humilde. O humilde
 não quer ser humilde, ele simplesmente o é. O humilde não faz nada para não aparecer,
 ele simplesmente não aparece. O humilde não contabiliza bondade, pois o faz 
naturalmente. O humilde não sabe que é humilde, pois ele é humilde.

O problema filosófico acerca da humildade destacado no paragrafo anterior dificuldade a 
continuidade da escrita deste artigo, pois se eu alcancei tamanha humildade ao ponto 
de ensinar sobre tal conceito isto desnuda que estou mui longe do que é ser 
humilde. Se contrariamente, reconheço quenão sou humilde torna as linhas abaixo
 um ultraje desprezível até mesmo para os mais orgulhosos leitores, além de soar como
 um belo discurso farisaico. Ciente deste conflito eu seguirei a escrever sobre humildade não
 por tê-la como um de meus adjetivos, reconheço tamanha ausência – digo isto não para dar
 um tom de humildade neste texto, o faço por pura consciência de minhas desvirtudes. 
Contudo, seguirei nesta pensata sobre humildade como que tentando encontrar um 
lampejo de esperança acerca da transformação que o Evangelho pode fazer no interior de 
pecadores, que assim como eu, estão desafortunadamente necessitados de encontrar o 
Cristo que abale as bases domeu/nosso caráter. É ali aos pés da cruz que te convido a uma 
jornada de reflexão sobre perdas, fraternidade, amor, bondade, gratidão e perdão, ou 
se você preferir, substitua todos estes distintivos anteriores pelo termo “humildade”. É nesta 
busca que debruço meu orgulho, prepotência, maldade, arrogância e inveja. Se você é 
humilde o suficiente te convido a tolerar os próximos parágrafos. Se lhe falta humildade, 
então, te convido a uma jornada que, espero, encontremos a assombrosa Graça do Carpinteiro
 que insiste forjar humildade nos corações humanos. 

A humildade está na contramão da autossuficiência. O sentimento de autossuficiência 
surge da presunção de pensar ser mais do que o é, por isto Paulo adverte: “...digo a todos
 vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo
 contrário, tenha um conceito equilibrado...” Romanos 12:3 (NVI). Tristemente, não poucas 
vezes, a autossuficiência surge sorrateiramente a partir dos louvores dos outros que 
preferem impulsionar uns usando como combustível o elogio. Nada é mais corrosivo a 
humildade do que aplausos. Endossando esta premissa o compositor e cantor Valter Júnior, 
no álbum “Momentos e Canções” (1992), na canção “Pedro”, reflexiona: “Pensar ser forte
 foi o erro meu, apoiar-me em minhas próprias forças, desejei eu. Embasado em elogios,
 aplausos, qualidades, ilusão de quem é adulto, mas ainda não cresceu. Se eu me visse 
como o pó que sou fácil seria: O Mestre juntaria Sua saliva e, o milagre então, de
 milhares que o veria através de mim, se realizaria. Mas penso ser rocha e, ao fim, 
sou tropeço. Pedro também pensava assim. Pedro, Petros, Pedra. Puro engano. Pedro 
apenas pó (...)”. Por esta razão o Carpinteiro instruía alguns que após o milagre não 
dissesse nada aos outros (cf. Mt. 8:4; Mc. 1:44; Lc. 5:14).

A humildade requer renuncia sem retribuição. O anonimato é uma virtude dos humildes,
 que mesmo longe dos holofotes fazem mais que os astros que desfilam nos palanques 
da vida. No contexto de igreja isto também é válido de ponderação, pois, infelizmente, 
resumiram a fé em apenas dois ministérios, a saber: pregação e louvor – ambos ministérios 
enamoram existencialmente e indissociavelmente com as platéias. Contudo, ser Igreja é 
muito mais que discursar ou cantar, requer entrega, doação e abnegação – aqui se encontra
 todos os outros indispensáveis ministérios que fazem a igreja ser Igreja, e que subsistem por
 detrás das câmeras. Catastroficamente, muitos servem o Mestre com segundas intenções,
 quase sempre do gênero reconhecimento/retribuição. Estes confundem justiça de Deus
 com meritocracia, pois julgam que Deus tem que beneficiar os bons; confundem amar com
 tratar bem o próximo, pois afinal um dia pode-se precisar daquela pessoa. Confundem bondade
 com a lei da semeadura, estes fazem o bem não por caráter, mas por acreditar que num
 futuro terão a bondade retornável; confundem paciência com investimento, estes toleram o 
próximo não por causa do amor, mas pelo medo de perder aliados.

A humildade dispensa vestimentas de piedade. Às vezes, na jornada nos é fornecido um 
traje de piedade que vem pré-formatado com programas sociais. Ali, onde se estabeleceu
 um processo planejado de bondade todos ficam “iluminados” pela luz da humildade. Os pobres
 que recebem os donativos imediatamente olham para os abastados e deduzem que estes
 são humildes, pois se misturaram com os necessitados. Mas, ser piedoso na coletividade pode
 ser apenas um disfarce para acalmar os gritos da consciência que acusa acerca da injustiça 
social global – isto soa tipo Miss Universo com o previsível discurso pela “paz mundial”. Piedosos
 de verdade são aqueles que extrapolam os programas sociais e torna causa de vida a 
vulnerabilidade social, independente dos programas ou da coletividade. Entenda, humildade 
não vem em um kit de combate a pobreza com datas e horários a cumprir, não se pode ser
 humilde apenas por algumas horas ou dias previamente estipulados. Obviamente, que não 
estamos desmerecendo os esforços, porém não podemos confundir humildade/piedade
 com voluntariado. A piedade é uma característica cristã proveniente da Graça, como entoa o 
cantor Jesus Adrian Romeiro na canção “es por tu gracia” (álbum “El Aire de Tu Casa”– 
2005): “Quando ninguém me vê, na intimidade. Onde não posso falar mais que a verdade. 
Onde não existem aparências. Onde meu coração está aberto. Ali sou sincero, ali minha 
aparência de piedade se vai. Ali é Tua graça que conta. Teu perdão é o que me sustenta 
para estar de pé. E não poderia continuar se não fosse revestido pela graça e justiça 
do Senhor (...) É por Tua graça e Teu perdão que podemos ser chamados de instrumentos
 do Teu amor (...)” – tradução livre.

Para finalizar este artigo valerei das palavras de Ricardo Gondim na celebre reflexão 
“Tributo ao humilde” – escrito em 05 de Abril de 2012, quando afirma: “Humildade e 
desejo de onipotência não combinam. Petulância não admite fragilidade, não reconhece 
limites, não aceita inadequações. O insolente nunca se dispõe imitar os passos de Jesus 
que, sendo Deus, não considerou apegar-se ao poder. Ele preferiu vulnerabilizar-se no
 amor (...) Humildade equivale a esvaziamento. O prepotente não consegue amar porque 
não sobra espaço em seu mundo. Só ama quem abre mão de controle e se deixa 
invadir pela companhia do outro. O humilde busca esse bem querer feito de renúncia. Ele
 sabe da impossibilidade de coerção e amor se misturarem. O pretensioso vive inflexível, 
impaciente e raivoso. Sua vontade deve prevalecer a qualquer custo. O humilde não se 
envergonha de recuar. Derrotas não representam para ele fracassos pessoais; insiste em
 não reprimir com violência. Sem se impor, o humilde não se vê esmagado pelas 
frustrações. O humilde é discretíssimo e elegante. Prefere esconder dos olhos o que as mãos 
fizerem. Nunca se acostuma com ovações. Assim, quando nutre o desejo de perseguir a
 humildade, ninguém percebe; e quando escreve, sabe que está longe de tê-la alcançado (...)”.

Por tudo isto, humildemente me despeço de você leitor, torcendo para que nós, em 
algum dia, sejamos surpreendido pelo Autor da Vida com a sentença: “...minha graça é
 suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”, e seguidamente 
concluir como Paulo: “...Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas 
fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim” –  2 Coríntios 12:9 (NVI).

Fortalecido pela cruz de Cristo,  
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


* Vinicius Seabra é professor das áreas de teologia e administração; diretor do
Seminário Evangélico de Teologia da América Latina (www.setal.org.br); 
presidente da Missão Tocando as Nações (www.mtn.org.br); e, pastor da
 Comunidade da Fé – Igreja Cristã (www.cofe.org.br) em Goiânia, Goiás, Brasil.